Acabei de ler A Era da Turbulência e o Capítulo Especial (Epílogo sobre a crise financeira), livro de memórias do ex-presidente do FED, banco central norte-americano.
Fiquei impressionado com a falta de autocrítica do autor. Defende secamente toda a política de desregulamentação do sistema financeiro e a política de juros baixos, que por longo período alimentou artificialmente o crescimento da economia dos EUA por via do mercado imobiliário e do consumo intenso, levando ao endividamento das famílias.
O cinismo do ex-banqueiro é um verdadeiro acinte. Chega a revitalizar argumentos liquidacionistas usados na crise de 1929, opondo-se aos planos para salvar o setor financeiro do colapso. Diz ele que " a reação das autoridades dos Estados Unidos ao colapso do Bear Stearns é muito preocupante". Puro liberal-darwinismo do deixa como está que no fim sobram os mais fortes.
Na crise de 1929 prevaleceu essa opinião liquidacionista no governo de Herbert Hoover(1929-1933) e os resultados foram catastróficos, levando milhões de pessoas à miséria absoluta nos EUA e no mundo afora. Somente depois, no governo de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), com forte intervenção do estado mediante aplicação das teses keyneisianas, a Grande Depressão foi superada.
Em meio a grave crise financeira cujas causas estão exatamente na falta de regulamentação, Alan Greenspan sai com essa pérola: "Sou cético quanto à idéia de que o aumento da regulamentação dos mercados financeiros poderia melhorar seu desempenho". Precisa mais para ilustrar o alto teor de neoliberalismo do ex-banqueiro.
A Era da Turbulência e Capítulo Especial foram publicados no Brasil pela editora Campus. Vale a pena conferir os bastidores do FED na fase em que Greenspan foi presidente do banco, entre agosto de 1987 a janeiro de 2005.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Investir em ações continuará a ser rentável em 2010
Mesmo com previsões de crescimento para 2010 bem abaixo dos 80% deste ano (analistas prevêem 20% de crescimento da Bovespa no ano que vem), investir em ações ainda será rentável. Os motivos de análises otimistas são externos (FED sinaliza que no próximo ano manterá a política de baixos juros, o que significa que vai continuar o carry trade, pegar dinheiro emprestado a jusros baixos e arriscar nos mercados emergentes) e interno (aceleração do crescimento e boa saúde das exportadoras de commodities, prevendo que a China vai manter-se crescendo muito acima da média global, e vai importar minérios e alimentos, base das nossas principais exportações, e base das empresas listadas no índice Bovespa).
domingo, 27 de dezembro de 2009
Será sustentável a retomada do crescimento em 2010?
Passado mais de um ano da quebra do Lehman Brother (15 de setembro de 2008) que aprofundou a crise financeira, temos muito o que comemorar neste fim de ano. Afinal de contas a economia global não mergulhou nas trevas da depressão, como todos temiam.
Ao contrário do cenário catastrófico, os resultados do terceiro trimestre nas principais economias-- mesmo que tímidos-- apontam para uma retomada do cresciemento no próximo ano. Será essa retomada sustentável, quando se sabe que está assentada sobre a areia movidiça do binômio incentivos fiscais e política monetária frouxa?
Aí que mora o perigo. Apesar de ainda ser necessária, servindo de muleta para sustentar a retomada do crescimento, tem contra-indicações, que são os déficits fiscais gigantescos e os endividamentos públicos igualmente elevados.
Peguemos como exemplo dois dos mais importantes países com centros financeiros poderosos- EUA e Inglaterra. As finanças dos EUA e do Reino Unido inspiram cuidados. O endividamento norte-americano está na ordem de 84,7% do PIB, caminhando para bater próximo de 100% no ano que vem. O Reino Unido a dívida bateu este ano nos 75,3% e será de 89,3% em 2010(os dados são da OCDE). Você imagina se o Brasil ou outro país emergente estivesse nessa situação, teria sido defenestrado pelas agências internacionais.
Os EUA tem uma economia forte e com potencial para superar essa fase, mas para isso acontecer tem que voltar a crescer com mais pujança para que o governo se refaça do rombo nas suas finanças. Entretanto não é o que se vislumbra para o próximo ano, quando a chaga do desemprego na faixa dos 10% pode levar a uma situação de longo período de baixo crescimento. As famílias norte-americanas continuam endividadas, tentando pagar dívidas hipotecárias e com cartões de crédito. Nesse caso há pouco consumo, indústrias operam com capacidade ociosa, não contratam, e na ponta o desemprego não cede. O fato a ser comemorado é que novos pedidos de seguro-desemprego vem caindo mês a mês, indicando uma estabilização dos índices de desempregado.
A retomada do crescimento dos EUA e das nações desenvolvidas é fundamental para o incremento do comércio internacional, principal alavanca do crescimento sustentável no mundo. Mesmo porque a maior economia emergente, a China, precisa do comércio internacional para continuar a crescer. O que significa absorver commodities de países como o Brasil.
Apesar das incertezas uma coisa é certa: o pior está ficando para trás. 2009 é um ano para esquecer. Vamos ser otimistas e acreditar em tempos melhores em 2010.
Ao contrário do cenário catastrófico, os resultados do terceiro trimestre nas principais economias-- mesmo que tímidos-- apontam para uma retomada do cresciemento no próximo ano. Será essa retomada sustentável, quando se sabe que está assentada sobre a areia movidiça do binômio incentivos fiscais e política monetária frouxa?
Aí que mora o perigo. Apesar de ainda ser necessária, servindo de muleta para sustentar a retomada do crescimento, tem contra-indicações, que são os déficits fiscais gigantescos e os endividamentos públicos igualmente elevados.
Peguemos como exemplo dois dos mais importantes países com centros financeiros poderosos- EUA e Inglaterra. As finanças dos EUA e do Reino Unido inspiram cuidados. O endividamento norte-americano está na ordem de 84,7% do PIB, caminhando para bater próximo de 100% no ano que vem. O Reino Unido a dívida bateu este ano nos 75,3% e será de 89,3% em 2010(os dados são da OCDE). Você imagina se o Brasil ou outro país emergente estivesse nessa situação, teria sido defenestrado pelas agências internacionais.
Os EUA tem uma economia forte e com potencial para superar essa fase, mas para isso acontecer tem que voltar a crescer com mais pujança para que o governo se refaça do rombo nas suas finanças. Entretanto não é o que se vislumbra para o próximo ano, quando a chaga do desemprego na faixa dos 10% pode levar a uma situação de longo período de baixo crescimento. As famílias norte-americanas continuam endividadas, tentando pagar dívidas hipotecárias e com cartões de crédito. Nesse caso há pouco consumo, indústrias operam com capacidade ociosa, não contratam, e na ponta o desemprego não cede. O fato a ser comemorado é que novos pedidos de seguro-desemprego vem caindo mês a mês, indicando uma estabilização dos índices de desempregado.
A retomada do crescimento dos EUA e das nações desenvolvidas é fundamental para o incremento do comércio internacional, principal alavanca do crescimento sustentável no mundo. Mesmo porque a maior economia emergente, a China, precisa do comércio internacional para continuar a crescer. O que significa absorver commodities de países como o Brasil.
Apesar das incertezas uma coisa é certa: o pior está ficando para trás. 2009 é um ano para esquecer. Vamos ser otimistas e acreditar em tempos melhores em 2010.
sábado, 19 de dezembro de 2009
Crescimento econômico do ABCD
Entre 2003, primeiro ano do governo Lula, e 2007, a região do
ABCD paulista obteve o extraordinário salto de 53,8% no PIB-
Produto Interno Bruto, de acordo com o IBGE ( Instituto
Brasileiro de Geografia e Estastítica). O PIB no período
passou de R$ 41,4 bilhões para R$ 63,7 bilhões. Fosse uma cidade, seria a quarta, atrás de São Paulo, Rio e Brasília.
Na década de 1990 o ABCD foi condenado a virar um lugar de
cidades mortas. No rumo que a economia da região estava
seguindo, era mesmo esse o destino.
ABCD paulista obteve o extraordinário salto de 53,8% no PIB-
Produto Interno Bruto, de acordo com o IBGE ( Instituto
Brasileiro de Geografia e Estastítica). O PIB no período
passou de R$ 41,4 bilhões para R$ 63,7 bilhões. Fosse uma cidade, seria a quarta, atrás de São Paulo, Rio e Brasília.
Na década de 1990 o ABCD foi condenado a virar um lugar de
cidades mortas. No rumo que a economia da região estava
seguindo, era mesmo esse o destino.
A que se deve essa guinada ? A uma conjunção de fatores, entre os quais beneficiou-se do crescimento econômico do país, por ser uma região com boa infraestrutura,
mão de obra qualificada, potencial mercado consumidor. O
governo investiu pesado no setor automotivo, com impacto imediato no crescimento de toda a cadeia produtiva e de logística.
O ABCD leva vantagem ao abrigar plantas de indústrias
automobilísticas, como GM, Ford, Volks, Scania, Mercedes. A
retomada da produção de automóveis puxou o crescimento
econômico da região. Some-se a isso o forte crescimento do
setor de construção civil e de serviço, temos na região um processo de crescimento sustentável.
Para 2010 a expectativa é de continuidade desse cenário,
acompanhando o crescimento da economia brasileira.
mão de obra qualificada, potencial mercado consumidor. O
governo investiu pesado no setor automotivo, com impacto imediato no crescimento de toda a cadeia produtiva e de logística.
O ABCD leva vantagem ao abrigar plantas de indústrias
automobilísticas, como GM, Ford, Volks, Scania, Mercedes. A
retomada da produção de automóveis puxou o crescimento
econômico da região. Some-se a isso o forte crescimento do
setor de construção civil e de serviço, temos na região um processo de crescimento sustentável.
Para 2010 a expectativa é de continuidade desse cenário,
acompanhando o crescimento da economia brasileira.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Concertación faz críticas a Ominame- assim fica difícil.
Li nos principais jornais chilenos que setores influentes da Concertación-- coalizão de centro-esquerda que governa o país-- fazem críticas ao candidato independente Marco Enriquez-Ominame, que obteve 20% dos votos. Jorge Arrate, outro candidato de esquerda, já teria dado apoio a Eduardo Frei. No entanto as chances de virar o jogo e derrotar o direitista Sebastián Piñera passa necessariamente pela unidade da esquerda. Fazendo críticas a Ominame por ter rompido com a Concertación é o caminho mais curto para a derrota.
Artigo de José Dirceu na Folha (16/12/2009)
Distorções inaceitáveis
José Dirceu (*)
A diretriz do governo Lula para a política externa é responsável pelo papel de destaque no mundo que o Brasil conquistou
O PROFESSOR da USP José Augusto Guilhon Albuquerque escreveu nesta Folha (9/12) crítica à visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Disse ter ficado confuso quanto ao que é paz e o que é desejável e, em exercício inaceitável de distorção dos fatos, afirma que houve cumplicidade brasileira com as atrocidades cometidas pelo governo iraniano.Primeiramente, o professor omite que o iraniano foi recebido após as visitas dos presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.Quer dizer que o professor acha ruim receber Ahmadinejad, mas nada tem contra a recepção a Peres, presidente de um país que seguidamente viola as resoluções da Organização das Nações Unidas e cujo governo é responsável, pela via da força, por negar seguidamente ao povo palestino o direito de ter seu próprio país?Mas o ardil de Albuquerque veio acompanhado da ausência de leitura da cobertura que a Folha fez do encontro com o iraniano.No caderno Mundo (24/11), somos informados de que Lula "aproveitou a presença de Ahmadinejad para transmitir cobranças quase unânimes da comunidade diplomática", deixando "claro que repudia a hostilidade aberta de Ahmadinejad a Israel" e que "o Brasil, embora busque os melhores vínculos possíveis com o Irã, tem ressalvas em relação a algumas posições do iraniano".O jornal publicou ainda as seguintes frases do presidente Lula: "A política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade. Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha de nossos cidadãos e cidadãs com a mesma veemência com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo" e "Defendemos o direito do povo palestino a um Estado viável e a uma vida digna, ao lado de um Estado de Israel seguro e soberano".Isso não importa, não é mesmo, professor? Afinal, a política externa que o sr. defende é a adotada no governo Fernando Henrique Cardoso, que desejava uma ordem unipolar, com os EUA dando as cartas.O professor não se incomoda com essa concepção de política externa nem com a invasão do Iraque sem autorização da ONU ou com os centros de tortura americanos mundo afora.Não há limites à hipocrisia, professor? A cumplicidade com essa submissão é que é inaceitável.A diretriz do governo Lula para a política externa é, reconhecidamente, responsável pelo papel de destaque no mundo que o Brasil conquistou. Ela se pauta, entre outros fatores, pela compreensão de que nossos interesses nacionais serão tão mais ressonantes quanto maior for o caráter multipolar da nova ordem internacional. E esse caminho passa por integrar os países em desenvolvimento e seus blocos regionais e por construir novas pontes diplomáticas.O Brasil não aceita o jogo da vilanização, cujo único propósito é reforçar a supremacia de uma superpotência e seus aliados. O presidente Lula age como interlocutor de distintos parceiros, com respeito à autodeterminação e mantendo sempre como horizonte estratégico a superação do unilateralismo como caminho único para a paz.A passagem de Ahmadinejad pelo Brasil serviu também para que a comunidade internacional se fizesse ouvida pelo iraniano. E Lula deixou isso claro no encontro.Se o professor escolheu torcer os fatos, não pode alegar desconhecimento de que a principal ameaça à paz mundial é a existência de um mundo unipolar.As principais guerras recentes (Iugoslávia, Iraque, Afeganistão) foram produto desse desequilíbrio. Mesmo o terrorismo islâmico tem como uma de suas razões históricas a hipertrofia dos EUA e do sionismo no Oriente Médio, que condenam o povo palestino a ser uma nação sem Estado, os países árabes a um cerco permanente e o Irã a uma ameaça constante de agressão militar por parte de Israel.Os sucessivos acordos de paz fracassados pedem que outros países, como o Brasil, contribuam com uma interlocução positiva no Oriente Médio. Por isso, receber Ahmadinejad foi, sim, uma decisão acertada.
JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA , 63, é advogado. Foi ministro-chefe da Casa Civil (governo Lula) e presidente do PT. Teve seu mandato de deputado federal pelo PT-SP cassado em 2005.
José Dirceu (*)
A diretriz do governo Lula para a política externa é responsável pelo papel de destaque no mundo que o Brasil conquistou
O PROFESSOR da USP José Augusto Guilhon Albuquerque escreveu nesta Folha (9/12) crítica à visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Disse ter ficado confuso quanto ao que é paz e o que é desejável e, em exercício inaceitável de distorção dos fatos, afirma que houve cumplicidade brasileira com as atrocidades cometidas pelo governo iraniano.Primeiramente, o professor omite que o iraniano foi recebido após as visitas dos presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.Quer dizer que o professor acha ruim receber Ahmadinejad, mas nada tem contra a recepção a Peres, presidente de um país que seguidamente viola as resoluções da Organização das Nações Unidas e cujo governo é responsável, pela via da força, por negar seguidamente ao povo palestino o direito de ter seu próprio país?Mas o ardil de Albuquerque veio acompanhado da ausência de leitura da cobertura que a Folha fez do encontro com o iraniano.No caderno Mundo (24/11), somos informados de que Lula "aproveitou a presença de Ahmadinejad para transmitir cobranças quase unânimes da comunidade diplomática", deixando "claro que repudia a hostilidade aberta de Ahmadinejad a Israel" e que "o Brasil, embora busque os melhores vínculos possíveis com o Irã, tem ressalvas em relação a algumas posições do iraniano".O jornal publicou ainda as seguintes frases do presidente Lula: "A política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade. Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha de nossos cidadãos e cidadãs com a mesma veemência com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo" e "Defendemos o direito do povo palestino a um Estado viável e a uma vida digna, ao lado de um Estado de Israel seguro e soberano".Isso não importa, não é mesmo, professor? Afinal, a política externa que o sr. defende é a adotada no governo Fernando Henrique Cardoso, que desejava uma ordem unipolar, com os EUA dando as cartas.O professor não se incomoda com essa concepção de política externa nem com a invasão do Iraque sem autorização da ONU ou com os centros de tortura americanos mundo afora.Não há limites à hipocrisia, professor? A cumplicidade com essa submissão é que é inaceitável.A diretriz do governo Lula para a política externa é, reconhecidamente, responsável pelo papel de destaque no mundo que o Brasil conquistou. Ela se pauta, entre outros fatores, pela compreensão de que nossos interesses nacionais serão tão mais ressonantes quanto maior for o caráter multipolar da nova ordem internacional. E esse caminho passa por integrar os países em desenvolvimento e seus blocos regionais e por construir novas pontes diplomáticas.O Brasil não aceita o jogo da vilanização, cujo único propósito é reforçar a supremacia de uma superpotência e seus aliados. O presidente Lula age como interlocutor de distintos parceiros, com respeito à autodeterminação e mantendo sempre como horizonte estratégico a superação do unilateralismo como caminho único para a paz.A passagem de Ahmadinejad pelo Brasil serviu também para que a comunidade internacional se fizesse ouvida pelo iraniano. E Lula deixou isso claro no encontro.Se o professor escolheu torcer os fatos, não pode alegar desconhecimento de que a principal ameaça à paz mundial é a existência de um mundo unipolar.As principais guerras recentes (Iugoslávia, Iraque, Afeganistão) foram produto desse desequilíbrio. Mesmo o terrorismo islâmico tem como uma de suas razões históricas a hipertrofia dos EUA e do sionismo no Oriente Médio, que condenam o povo palestino a ser uma nação sem Estado, os países árabes a um cerco permanente e o Irã a uma ameaça constante de agressão militar por parte de Israel.Os sucessivos acordos de paz fracassados pedem que outros países, como o Brasil, contribuam com uma interlocução positiva no Oriente Médio. Por isso, receber Ahmadinejad foi, sim, uma decisão acertada.
JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA , 63, é advogado. Foi ministro-chefe da Casa Civil (governo Lula) e presidente do PT. Teve seu mandato de deputado federal pelo PT-SP cassado em 2005.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Significado histórico e político da vitória de José "Pepe" Mojica
A vitória de José Mujica tem um grande significado histórico e político para a esquerda latino-americana.
Jose "Pepe" Mujica foi escolhido para ser candidato à sucessão presidencial, em dezembro de 2008, dentro da Frante Ampla (FA), fazendo uma disputa com pesos pesados, entre os quais o ex-ministro de Economia, Danilo Astori, que depois passou a ser vice-presidente. Temia-se pela divisão da FA, que seria fatal para as pretenções de a esquerda continuar no governo.
Jose Mujica tem uma história marcante. Esteve a frente das lutas contra de resistência a ditadura militar (1973-1985). Ex-lider guerrilheiro tupamaro, ficou preso durante doze anos, sofrendo maus-tratos físicos e psicológicos. Permaneceu por dois anos isolado no fundo de um poço. Numa entrevista a Carta Maior, em fevereiro de 2005, afirmou que para não enlouquecer, aprendeu a falar com rãs e "galopar para dentro de si mesmo". Na eleição de 2004, que elegeu Tabaré Vázquez, José Mujica é eleito o senador mais votado. Por toda essa trajetória de luta, José Mojica presidir o Uruguai tem para a esquerda de todo o continente um sabor especial.
É tem um significado estratégico importantíssimo. Mojica vai governar um país cujas bases econômicas são opostas de quando Tabaré Vázquez assumiu em 2005. A economia cresce 30% nos últimos cinco anos, reduzindo o desemprego, que caiu de 13% para 7%, o que ajudou a reduzir a pobreza de 31,9% para 20%. O Uruguai se beneficiou, é claro, do boom do comércio internacional pré-crise financeira global. Mas, como ocorreu no Brasil de Lula, soube desenvolver um mercado interno, que está sendo útil quando o comércio mundial sofreu um recuo drástico como consequência da crise financeira internacional.
A vitória de José Mujica é a garantia de que o Uruguai vai continuar avançando sua economia, com o olhar focado na redução ainda mais da pobreza. É essa a diferança essencial de um governo de esquerda comparado ao de direta. Em todos os governos de esquerda que assumiram nos últimos anos a pobreza foi reduzida mediante mecanismos de transferência de renda.
Durante a campanha os candidatos conservadores fizeram duras críticas ao Mercosul. Embora não falassem de público mais defendiam em privado que o bloco não seria prioridade num eventual governo conservador. Mais um motivo para comemorarmos a vitória de José Mujica. O futuro presidente, como o atual, sabe da importância do Mercosul para a integração da América Latina. O Brasil como a Argentina não podem fechar os olhos para o Uruguai. O fortalecimento do bloco passa necessariamente por ajudar Uruguai e Paraguai a se desenvolverem economicamente, abrindo mercado para produtos produzidos nesses países, além de abrir linha de crédito do BNDES para ajudar a desenvolver a indústria local. Se isso não acontecer vai aumentar a pressaõ interna para o Uruguai assinar tratado de livre comércio, inclusive com os EUA.
Por enquanto é comemorar a vitória. Ma a partir de março de 2010, quando tomar posse, José Mojica terá pela frente o desafio de uma agenda interna e externa cujo êxito consolidará a esquerda no Uruguai.
Jose "Pepe" Mujica foi escolhido para ser candidato à sucessão presidencial, em dezembro de 2008, dentro da Frante Ampla (FA), fazendo uma disputa com pesos pesados, entre os quais o ex-ministro de Economia, Danilo Astori, que depois passou a ser vice-presidente. Temia-se pela divisão da FA, que seria fatal para as pretenções de a esquerda continuar no governo.
Jose Mujica tem uma história marcante. Esteve a frente das lutas contra de resistência a ditadura militar (1973-1985). Ex-lider guerrilheiro tupamaro, ficou preso durante doze anos, sofrendo maus-tratos físicos e psicológicos. Permaneceu por dois anos isolado no fundo de um poço. Numa entrevista a Carta Maior, em fevereiro de 2005, afirmou que para não enlouquecer, aprendeu a falar com rãs e "galopar para dentro de si mesmo". Na eleição de 2004, que elegeu Tabaré Vázquez, José Mujica é eleito o senador mais votado. Por toda essa trajetória de luta, José Mojica presidir o Uruguai tem para a esquerda de todo o continente um sabor especial.
É tem um significado estratégico importantíssimo. Mojica vai governar um país cujas bases econômicas são opostas de quando Tabaré Vázquez assumiu em 2005. A economia cresce 30% nos últimos cinco anos, reduzindo o desemprego, que caiu de 13% para 7%, o que ajudou a reduzir a pobreza de 31,9% para 20%. O Uruguai se beneficiou, é claro, do boom do comércio internacional pré-crise financeira global. Mas, como ocorreu no Brasil de Lula, soube desenvolver um mercado interno, que está sendo útil quando o comércio mundial sofreu um recuo drástico como consequência da crise financeira internacional.
A vitória de José Mujica é a garantia de que o Uruguai vai continuar avançando sua economia, com o olhar focado na redução ainda mais da pobreza. É essa a diferança essencial de um governo de esquerda comparado ao de direta. Em todos os governos de esquerda que assumiram nos últimos anos a pobreza foi reduzida mediante mecanismos de transferência de renda.
Durante a campanha os candidatos conservadores fizeram duras críticas ao Mercosul. Embora não falassem de público mais defendiam em privado que o bloco não seria prioridade num eventual governo conservador. Mais um motivo para comemorarmos a vitória de José Mujica. O futuro presidente, como o atual, sabe da importância do Mercosul para a integração da América Latina. O Brasil como a Argentina não podem fechar os olhos para o Uruguai. O fortalecimento do bloco passa necessariamente por ajudar Uruguai e Paraguai a se desenvolverem economicamente, abrindo mercado para produtos produzidos nesses países, além de abrir linha de crédito do BNDES para ajudar a desenvolver a indústria local. Se isso não acontecer vai aumentar a pressaõ interna para o Uruguai assinar tratado de livre comércio, inclusive com os EUA.
Por enquanto é comemorar a vitória. Ma a partir de março de 2010, quando tomar posse, José Mojica terá pela frente o desafio de uma agenda interna e externa cujo êxito consolidará a esquerda no Uruguai.
Vale-Cultura é inclusão social
Quarta-feira, dia 2/12, o Programa de Cultura do Trabalhador-- que institui o Vale-Cultura-- passou nas comissões do Senado. Agora será votado no plenário. O projeto foi enviado pelo Minc-Ministério da Cultura.
De acordo com o IBGE, somente 14% dos brasileiros frequentam salas de cinema; 55% dos municípios não têm cinema, livrarias ou teatros. A média de livros lidos no país é de 1,8, bem abaixo dos 7 livros lidos por franceses.
Há uma verdadeira exclusão cultura no Brasil, que faz parte da exclusão social. Por isso é muito importante que o governo incentive o consumo já que a produção artística tem o incentivo via a Lei Rouanet.
O Vale-Cultura vai contribuir para ampliar o acesso à cultura, beneficiando 12 milhões de pessoas. Dessa forma, criam-se as condições materiais para formação de uma indústria cultural de massa, à medida que injetará nesse setor R$ 7,2 bilhões.
Não há como não votar no projeto. Os partidos de oposição renderam-se ao Programa, apesar de criticá-lo.Quarta-feira, dia 2/12, o Programa de Cultura do Trabalhador-- que institui o Vale-Cultura-- passou nas comissões do Senado. Agora será votado no plenário. O projeto foi enviado pelo Minc-Ministério da Cultura.
De acordo com o IBGE, somente 14% dos brasileiros frequentam salas de cinema; 55% dos municípios não têm cinema, livrarias ou teatros. A média de livros lidos no país é de 1,8, bem abaixo dos 7 livros lidos por franceses.
Há uma verdadeira exclusão cultura no Brasil, que faz parte da exclusão social. Por isso é muito importante que o governo incentive o consumo já que a produção artística tem o incentivo via a Lei Rouanet.
O Vale-Cultura vai contribuir para ampliar o acesso à cultura, beneficiando 12 milhões de pessoas. Dessa forma, criam-se as condições materiais para formação de uma indústria cultural de massa, à medida que injetará nesse setor R$ 7,2 bilhões.
Não há como não votar no projeto. Os partidos de oposição renderam-se ao Programa, apesar de criticá-lo.
De acordo com o IBGE, somente 14% dos brasileiros frequentam salas de cinema; 55% dos municípios não têm cinema, livrarias ou teatros. A média de livros lidos no país é de 1,8, bem abaixo dos 7 livros lidos por franceses.
Há uma verdadeira exclusão cultura no Brasil, que faz parte da exclusão social. Por isso é muito importante que o governo incentive o consumo já que a produção artística tem o incentivo via a Lei Rouanet.
O Vale-Cultura vai contribuir para ampliar o acesso à cultura, beneficiando 12 milhões de pessoas. Dessa forma, criam-se as condições materiais para formação de uma indústria cultural de massa, à medida que injetará nesse setor R$ 7,2 bilhões.
Não há como não votar no projeto. Os partidos de oposição renderam-se ao Programa, apesar de criticá-lo.Quarta-feira, dia 2/12, o Programa de Cultura do Trabalhador-- que institui o Vale-Cultura-- passou nas comissões do Senado. Agora será votado no plenário. O projeto foi enviado pelo Minc-Ministério da Cultura.
De acordo com o IBGE, somente 14% dos brasileiros frequentam salas de cinema; 55% dos municípios não têm cinema, livrarias ou teatros. A média de livros lidos no país é de 1,8, bem abaixo dos 7 livros lidos por franceses.
Há uma verdadeira exclusão cultura no Brasil, que faz parte da exclusão social. Por isso é muito importante que o governo incentive o consumo já que a produção artística tem o incentivo via a Lei Rouanet.
O Vale-Cultura vai contribuir para ampliar o acesso à cultura, beneficiando 12 milhões de pessoas. Dessa forma, criam-se as condições materiais para formação de uma indústria cultural de massa, à medida que injetará nesse setor R$ 7,2 bilhões.
Não há como não votar no projeto. Os partidos de oposição renderam-se ao Programa, apesar de criticá-lo.
Economia ajudou Evo Morales
Evo Morales venceu no primeiro turno a eleição realizada no dia 6 de dezembro porque (a exemplo do presidente Lula no Brasil) mudou a cara da Bolívia.
Na economia, houve avanços significativos. Até a posse de Evo Morales, em janeiro de 2005, o PIB boliviano era deUS$ 8,8 bilhões, hoje é US$ 19 bilhões; a renda per capita passou de US$ 1.010 para US$ 1.671; as reservas são quase 50% do PIP; inflação controlada; câmbio estável.
Esse cenário positivo na economia- PIB vai crescer este ano 4,5%, em plena crise financeira global- ajudou a redução da pobreza, através de fortes investimentos sociais. US$ 300 milhões anuais são investidos em programas sociais com benefícios diretos a estudantes, idosos e mães, melhorando a vida de um quarto da população.
Em outra frente, Evo Morales patrocinou mudanças estruturais importantes, por meio de uma estratégia que combina ação direta dos movimentos sociais com ação institucional. A constituinte aprovou uma nova Constituição que funda um novo estado, de caráter democrático e popular, reconhecendo as nações indígenas, que são a maioria do povo boliviano mas viviam praticamente à margem da sociedade.
Na campanha eleitoral as diferenças entre os projetos da esquerda e da direita ficaram evidenciadas. Evo Morales sintetizou bem o que estava em jogo, ao dizer que havia "dois caminhos: ir para a frente, apoiar a mudança ou remontar ao passado, voltar ao neoliberalismo". Os resultados das urnas não deixam dúvidas qual caminho os bolivianos escolheram.
Na economia, houve avanços significativos. Até a posse de Evo Morales, em janeiro de 2005, o PIB boliviano era deUS$ 8,8 bilhões, hoje é US$ 19 bilhões; a renda per capita passou de US$ 1.010 para US$ 1.671; as reservas são quase 50% do PIP; inflação controlada; câmbio estável.
Esse cenário positivo na economia- PIB vai crescer este ano 4,5%, em plena crise financeira global- ajudou a redução da pobreza, através de fortes investimentos sociais. US$ 300 milhões anuais são investidos em programas sociais com benefícios diretos a estudantes, idosos e mães, melhorando a vida de um quarto da população.
Em outra frente, Evo Morales patrocinou mudanças estruturais importantes, por meio de uma estratégia que combina ação direta dos movimentos sociais com ação institucional. A constituinte aprovou uma nova Constituição que funda um novo estado, de caráter democrático e popular, reconhecendo as nações indígenas, que são a maioria do povo boliviano mas viviam praticamente à margem da sociedade.
Na campanha eleitoral as diferenças entre os projetos da esquerda e da direita ficaram evidenciadas. Evo Morales sintetizou bem o que estava em jogo, ao dizer que havia "dois caminhos: ir para a frente, apoiar a mudança ou remontar ao passado, voltar ao neoliberalismo". Os resultados das urnas não deixam dúvidas qual caminho os bolivianos escolheram.
Guerra (in)justa de Barack Obama
Barack Obama defendeu a guerra justa em discurso na premiação do Prêmio Nobel da Paz. Republicanos e democratas comemoraram. Alguma coisa está fora do lugar. É que de fato pouca coisa mudou na política externa dos EUA, a não ser a retórica do multilateralismo que o governo de Obama tem enfatizado, o que não deixa de ser positivo, comparando com o belicismo de G.W.Bush. O problema é que os EUA se movem com base na máxima " o que é bom para os EUA é igualmente bom para o mundo". E ponto final.
Barack Obama ressuscita o velho chavão da guerra justa ou moralmente justificada. O tom será esse daqui para frente. O manto da guerra moralmente justificada vai embalar a continuidade do apoio a Israel, que continua massacrando civis palestinos; ampliação da intervenção no Afeganistão; manutenção da intervenção no Iraque; legitimação de golpes, quando for de interesse dos EUA, como em Honduras; montagem de bases militares na Colômbia, ameaçando a soberania dos países sul-americanos. E por ai vai.
A política externa da era Bush- bem contra o mal- não existe mais. Foi substituida pela guerra moralmente justificada de Barack Obama.
Barack Obama ressuscita o velho chavão da guerra justa ou moralmente justificada. O tom será esse daqui para frente. O manto da guerra moralmente justificada vai embalar a continuidade do apoio a Israel, que continua massacrando civis palestinos; ampliação da intervenção no Afeganistão; manutenção da intervenção no Iraque; legitimação de golpes, quando for de interesse dos EUA, como em Honduras; montagem de bases militares na Colômbia, ameaçando a soberania dos países sul-americanos. E por ai vai.
A política externa da era Bush- bem contra o mal- não existe mais. Foi substituida pela guerra moralmente justificada de Barack Obama.
Hora da esquerda se unir no Chile
Com 98% dos votos apurados, a eleição chilena desse domingo colocou no 2º turno o candidato direitista Sebastián Piñera ( 44,03%)e o candidato da centro-esquerda Eduardo Frei(29,62%).É bem verdade que Frei não é propriamente identificado com a esquerda, embora seja candidato pela concertación, da presidente Michelle Bachelet. Tanto é verdade que dois outros candidatos de esquerda lançaram-se candidatos. São eles Marco Enriquez-Ominami (20,12%) e Jorge Arrate (6,21%).Do lado oposto está Piñera, assumidamente um conservador, apoiado por toda a direita chilena, incluindo setores ligado ao ex-ditador Augusto Pinochet.A unidade da esquerda no 2º turno é primordial para derrotar a direita, impedindo que haja no Chile um retrocesso político, com graves consequências à esquerda no continente sul-americano.
Blogosfera, me aguarde!!
Esse espaço será para falar de política, filmes, livros, música, e outras coisas mais. Me aguardem!!!
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