quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Perfil de Marco Maia por Caio Junqueira, do Valor Econômico

Marco Maia opôs-se à agenda empresarial

Autor(es): Caio Junqueira | De Brasília
Valor Econômico - 29/12/2010
 
 
A eventual chegada do deputado Marco Maia (PT-RS) à presidência da Câmara em 2011 conduzirá ao terceiro principal cargo da República um dos maiores defensores do trabalhismo no Congresso. Com 45 anos completados na segunda-feira, o "metalúrgico, torneiro mecânico e industriário" de Canoas (RS) empenhou seu mandato na defesa dos principais projetos de interesses sindicais.
No mais significativo deles, o que reduz a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, foi protagonista. Apresentou um projeto que inaugurou seu mandato, em 15 de fevereiro de 2007: "Este não é tema menor porque ao mesmo tempo em que melhoraremos a qualidade de vida dos trabalhadores, poderemos criar condições para gerar milhares de postos de trabalho". Em seguida, concluiu: "Protocolei esse projeto ontem e anuncio a esta Casa e ao povo brasileiro que vamos trabalhar para que ele efetivamente se transforme em realidade".
Dezesseis meses depois, quando a comissão especial para tratar do tema foi instalada, comemorou, com um alerta: "Tenho certeza de que não será um debate fácil. Outras forças, as ocultas da sociedade brasileira, estarão atuando aqui para não permitir a votação".
A discussão do projeto não avançou pela forte oposição do setor empresarial, que defende que sejam feitos acordos, caso a caso, entre empresas e sindicatos. Um dos maiores lobbies contrários à proposta foi feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O projeto empacou, mas Maia ganhou destaque como expoente da "bancada sindicalista", que reúne algo em torno de 60 deputados. Embora não ocupem nem 15% do total das cadeiras da Casa, eles formam um dos grupos mais articulados e barulhentos da Câmara. Desses 60, mais de 40 são do PT e seu nome passou a ser cogitado para a primeira vice-presidência, na eleição vencida por Michel Temer (PMDB-SP).
A corrente interna petista de Maia, a Construindo um Novo Brasil (CNB), ficou entre dois nomes para o posto: o dele ou de outro sindicalista, Luiz Sérgio (RJ), futuro ministro das Relações Institucionais. Maia acabou levando porque o núcleo duro da CNB na Câmara queria apostar em um nome "novo" e em ascensão. Outro atributo considerado foi a fidelidade ao governo, demonstrado por ele quando relatou a CPI do Tráfego Aéreo, em 2007. Seu texto final isentou a ex-diretoria da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) de qualquer responsabilidade pela crise aérea no país, o que provocou revolta na oposição. Antes da CPI, sua afinidade com o tema havia sido na relatoria da medida provisória que criou a estrutura de cargos e salários da Anac, em 2006.
Já na vice-presidência, seu papel anterior na defesa da redução da jornada chamou a atenção do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT. Desses projetos, destacam-se o que corrige os juros de mora de débitos trabalhistas de acordo com a taxa Selic, e não mais com a TR, que tem índices menores. "Deixa, assim, de ser interessante [para as empresas] adiar o pagamento das obrigações trabalhistas", escreveu na justificativa do projeto.
Em outro, sugeriu restrições às empresas que atrasem o pagamento dos salários dos empregados. Alega que "não há situação que justifique esse tipo de atitude de qualquer empresa, uma vez que é o empregador que assume o risco da atividade econômica e não o empregado, que só tem o seu salário, cuja natureza é alimentar".
Lupi e Maia passaram a realizar algumas agendas conjuntas. Por exemplo, com representantes dos trabalhadores das indústrias de papel, em abril de 2009, para tratar de demissões do setor decorrentes da crise. Saíram com críticas às empresas que recebem recursos públicos e mesmo assim não garantem os empregos dos funcionários. Sete meses depois, outra reunião, com dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Rio Grande do Sul. O assunto era o interesse da entidade em regularizar o registro sindical da entidade.
Na Câmara, porém, a parceria de Maia com Lupi não foi suficiente para que os pedetistas embarcassem em sua campanha. O líder do PDT na Câmara, Paulo Pereira da Silva (SP), é um dos principais articuladores contra sua eleição, embora seja todo elogios para Maia. A contrariedade, diz Paulinho, deve-se mais ao acordo entre PT e PMDB para comandar a Casa nos próximos quatro anos e à insatisfação com a distribuição do primeiro escalão pela presidente eleita Dilma Rousseff (PT) do que rejeição ao petista. O PDT luta agora pelo segundo escalão. Quer o deputado federal Dagoberto (MS) na Eletrosule o ex-senador Osmar Dias (PR) em Itaipu.
O empenho na agenda sindical que Maia imprimiu ao seu mandato deve-se à sua trajetória antes de chegar a Brasília. Foi dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas (RS); secretário de Política Sindical da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Rio Grande do Sul; tesoureiro da CUT-RS e secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos. Essa carreira o ajudou a construir relações no meio sindical que influíram na disputa interna em que se envolveu com Vaccarezza. O presidente da CUT, Arthur Henrique, fez campanha em seu favor, principalmente após Vaccarezza se declarar pela reforma trabalhista.
A maior virtude apontada em Maia é a discrição e capacidade para o diálogo que o fez costurar, sem arroubos, apoio dentro e fora do partido. Também consegue se livrar de situações difíceis com certa habilidade. Nas duas votações em que duas de suas principais características - o trabalhismo e o governismo - se cruzaram, não se manifestou. Foi quando a Câmara aprovou a extinção do fator previdenciário e na votação do aumento real de 8,77% sobre os benefícios previdenciários no lugar dos 7,72% negociado pelas centrais sindicais. Nas duas ocasiões, ausentou-se, sem maiores prejuízos pessoais com sua base sindical e com o Palácio do Planalto


 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Dois anos após ofensiva, Gaza se mantém tensa

Adriana Carranca - O Estado de S.Paulo


Dois anos após a ofensiva israelense, que deixou 1,4 mil palestinos mortos em 23 dias na Faixa de Gaza, os escombros ainda estão por toda a parte, não há luz nas ruas, a vida é monitorada à distância por aviões e navios militares e os confrontos voltaram a fazer parte da rotina.


Adriana Carranca/AETerra arrasada. Crianças em Gaza: sem eletricidade nem água
Na última semana, campos de treinamentos do Hamas, túneis clandestinos na fronteira com o Egito e uma fábrica de armas foram bombardeados por aviões israelenses. Foram uma retaliação aos últimos 13 foguetes disparados contra Israel - 180 desde janeiro - por facções menores e mais radicais do que o Hamas, que controla o território, como o Exército do Islã. Mas o Hamas é responsabilizado por Israel por não controlar a situação.

Gabi Ashkenazi, comandante do Estado-Maior de Israel confirmou 60 mortes em mais de uma centena de embates com militantes em 2010. Em uma reunião do Comitê de Defesa e Relações Internacionais na Knesset, na terça-feira, Ashkenazi classificou a situação como "frágil, volátil e explosiva".

A população vive na iminência de uma nova guerra, sem ter conseguido se recuperar da outra. "Às vezes é impossível respirar. A poeira do concreto, o lixo sendo queimado na rua, o esgoto...", diz o farmacêutico Ayman Nimer. Ele entra pelas vielas estreitas e esburacadas do destruído cemitério Al-Sheikh Radwan, também bombardeado em 2008. "Quem eles esperavam matar no cemitério? Alá!?", diverte-se, com um típico humor palestino. Ayman aponta para as duas únicas oliveiras ainda em pé desde a guerra: "Olhe para essas árvores no meio dos escombros, tão empoeiradas, mas ainda respiram! São um sinal da resistência palestina."

Sob o nicab negro, tão empoeirado quanto as oliveiras, Om Saleh, de 60 anos, diz que os confrontos fazem parte da rotina nos arredores do Aeroporto Yasser Arafat, em ruínas. Há poucos dias, soldados do Hamas escondidos entre os escombros trocaram tiros com tropas israelenses e três tanques avançaram sobre a área onde passa os dias catando pedras, que vende com a ajuda dos dez filhos. Um carro de burro cheio vale por 20 shekels (cerca de R$ 9,50).

Ironicamente, um dos setores mais pulsantes da economia na Faixa de Gaza hoje vem do entulho deixado pelos bombardeios. Na principal via de acesso, a rua Al-Montar, crianças e jovens vasculham as ruínas do antigo distrito industrial em busca de ferro e pedras para vender às empresas de reciclagem, já que o bloqueio imposto por Israel proíbe a entrada de material de construção.

Com isso, a ajuda internacional ficou apenas no papel, o que inclui U$ 1 milhão do Brasil, com África do Sul e Índia, para a reconstrução do hospital do Crescente Vermelho. Somente em 17 de novembro a embaixada brasileira recebeu telegrama de Israel aprovando a iniciativa, mas o projeto e o material terão de passar pelo crivo do corpo militar. "O que temos é a palavra do governo israelense de que o hospital vai sair", diz um diplomata brasileiro em Tel-Aviv. Outros R$ 25 milhões, aprovados pelo Congresso Nacional em agosto de 2009, ainda aguardam os trâmites do governo israelense para chegar até Gaza.

A única central elétrica em Gaza, bombardeada em 2008, parou de funcionar. Os hospitais operam com geradores, mas é comum faltar combustível. E 70% da população não têm acesso a água potável, porque falta eletricidade ou os encanamentos estão destruídos. O número de autorizações concedidas para quem quer deixar Gaza representa apenas 1% do que era permitido há dez anos. A passagem para o Egito está aberta em teoria, mas visivelmente às moscas.




sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Prêmio Sylvio Pélico

O vereador Edgar Nóbrega e o PT concederam a militantes do PT o Prêmio Sylvio Pélico, entre os quais tive a honra de ser incluído na lista de 2010 para receber o prêmio.

Moro em São Caetano há 22 anos. Amo e adoro a cidade, acolhedora, apesar de conservadora, dominada por famílias italianas que se revesam no poder municipal.

Sobre o prêmio, veja o que diz o jornal ABC Repórter. "O PT de São Caetano e o vereador Edgar Nóbrega, que é presidente municipal do partido, estão divulgando a realização do prêmio Sylvio Pélico, que acontece na próxima segunda-feira, na Câmara Municipal. A honraria é dedicada a petistas que “contribuem para construir a história do partido”, como define a organização. Este ano o foco principal é para os destaques na militância.

Sylvio Pélico foi um marco e referência política para o partido. Trabalhador metalúrgico, já militava e lutava pelos direitos operários antes mesmo do surgimento do PT. Os atuais petistas costumam dizer que ele “encarnava”a alma do partido. Também teve atuação destacada na política regional. Em 1983, Sylvio assumiu a Presidência da Câmara Municipal de São Caetano".

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Reportagem de Luciane Carneiro em O Globo sobre subida da classes C na pirâmide social

Lucianne Carneiro – O GLOBO
Um dos destaques da economia brasileira nos últimos anos, a emergente classe C agora alça novos voos. O Brasil já vive, segundo especialistas, um processo de migração de parte da classe C para a B. Estudo da Ativa Corretora estima que 5,9 milhões de pessoas devem avançar para a classe B até o fim de 2011, na comparação
com o início de 2009. Com isso, o grupo — com renda familiar entre R$ 4.807 e R$ 10.375, segundo o levantamento — deve chegar a 15,4% da população brasileira, ou 29,363 milhões de pessoas. O documento mostra ainda que, com a melhoria da renda média na classe B, o perfil de consumo tende a se refinar, e ganham espaço gastos como educação, alimentação fora de casa, transporte, higiene e assistência à saúde.
— Nossa estimativa é que, além dos seis milhões que deixarão a classe C em direção à B, três milhões sairão da D para a C. Isso é fruto do forte crescimento econômico do Brasil nos últimos anos e do aumento do trabalho formal e do crédito — afirma o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho Filho, um dos autores do estudo.
— Há uma migração positiva das classes sociais brasileiras, e muitos que eram da C estão indo para a B — concorda o diretor da consultoria IPC Marketing, Marcos Pazzini.
Classes A e B crescem em maior velocidade
● O diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, Marcelo Neri, diz que seus estudos vêm mostrando essa ascensão da classe C à B. Segundo ele, apesar de a C ser a maior do país, em números absolutos, são as classes A e B que crescem em ritmo mais expressivo. — No acumulado dos 12 meses até julho, o crescimento da classe AB foi de 13%. É a que proporcionalmente cresce mais — diz Neri.
Mais do que revelar a tendência de migração da classe C para a B, o estudo da Ativa Corretora aponta ainda um maior refinamento do consumo. Os gastos com educação
avançam, como forma de garantir o futuro da família e a manutenção do padrão de vida. Outra despesa que avança é com transportes, já que os carros próprios exigem os gastos com combustíveis.
— Os dados mostram que o padrão de consumo da classe C de hoje é maior que o da B de 15 anos atrás — diz Arthur Carvalho Filho.
A educação dos dois filhos é uma das principais preocupações da dona de casa Valeria Cristina Rodrigues Carvalho Martins, de São Paulo, e de seu marido, Juramir Paulo Martins. Hoje na classe B, a família, cuja renda mensal fica em torno de R$ 7 mil, reserva cerca de 20% do orçamento para pagar a escola particular para Vinicius, de 14
anos, e Barbara, de 10. Mas também há espaço para alimentação fora de casa, lazer, viagens e higiene e cuidados pessoais. Eles vivem numa casa construída ao longo
de cinco anos, enquanto moravam na casa da mãe de Juramir. — Aqui não se come em casa sábado e domingo. Ou tem convite para festa ou vamos ao restaurante — conta Valeria, que também faz visitas semanais ao salão de beleza.
Na família do advogado Daniel Lazary, sócio franqueado de uma loja da rede MegaMatte no Rio, o lazer também surge como despesa importante do orçamento (cerca de 30%), além dos recursos destinados a garantir o futuro para o filho de três anos. — Em 2011, nossos gastos com educação devem aumentar, já que queremos colocar nosso filho em aulas de inglês, música e natação. E ele tem um plano de previdência desde que nasceu — diz.
Mas o sócio-diretor do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, defende que os valores não necessariamente mudam com a melhoria da renda da população e a ascensão a uma nova classe social. — Existe uma classe C emergente, que está melhorando de renda e avançando para a B. Mas querer ser rico não é querer ser como rico. Existe uma busca por qualidade, por exemplo, mas não por marcas — aponta.
Para o sociólogo e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Rafael Guerreiro Osorio, o que existe hoje no Brasil não é uma migração de classes sociais, mas sim de extrato de renda. — Houve crescimento real da renda das famílias, a desigualdade caiu, e as pessoas estão melhorando de vida e se movendo. Mas não significa que haja mobilidade social entre as classes — afirma.
Novos anseios por educação e trabalho
● O sociólogo explica que o conceito de classe social está ligado à posse de propriedade privada, à posição na divisão do trabalho e ao exercício de poder nas relações de trabalho. — A nova classe média tem demanda por educação e anseios trabalhistas. São variáveis que estão andando mais rapidamente que o consumo, não são meramente classes consumistas — diz Marcelo Neri. Ele considera muito otimista o cálculo de seis milhões de novos participantes da classe B até o fim de 2011 do estudo da Ativa Corretora. Sua estimativa é que as classes A e B ganhem, juntas, 6,5 milhões de novos integrantes até 2014. Este foi o crescimento registrado
entre 2003 e 2009.
Para efeito de simplificação, o levantamento considerou uma taxa de crescimento da renda real igual entre as diferentes classes. Além disso, aponta Carvalho Filho, a inflação estimada no relatório é de 5,2% em 2011, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mas, se a alta do custo de vida ultrapassar esse nível,
pode comprometer a renda da população e afetar a estimativa. Para segurar a inflação, na última sexta-feira o Banco Central (BC) anunciou medidas de restrição ao crédito, cuja forte expansão nos últimos anos puxou o crescimento da classe C. Analistas dizem que o BC pode elevar os juros básicos da economia em janeiro, com o
mesmo objetivo: conter o consumo. ■