sexta-feira, 29 de julho de 2011

Artigo de Carlos Lessa sobre o economista Argentina Raúl Prebisch

Raúl Prebisch, a ascensão da China e o Terceiro Mundo
Carlos Lessa | Para o Valor, do Rio
29/07/2011



A coruja do conhecimento, geralmente, levanta voo ao entardecer. As grandes passagens da economia mundial produzem revoadas de corujas. Destas, muitas fazem a releitura de antigos pensadores deixados, provisoriamente, de lado. Essa releitura auxiliará a construção de novas interpretações. Hegel falava da fácil sabedoria da visão retrospectiva, ou seja, como o curso histórico tem suas razões, a releitura permite explicitar algumas delas. Entretanto, a criação intelectual que ilumina o amanhã exige o que Nietzsche denominava "espírito de águia", que não teme se debruçar sobre o abismo.
Li "Raúl Prebisch (1901-1986): A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo", de Edgar Dosman, editado pela Contraponto em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado. Uma biografia exaustiva e rigorosa, do ponto de vista documental, do economista argentino que escreveu o livro "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas", conhecido como "Manifesto Latino-Americano", divulgado em Havana em 1949. Nele, Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e se aprofundava secularmente, pois a dinâmica dos ciclos de comércio exterior favorecia, a longo prazo, as economias já industrializadas e dominantes.

Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e só se aprofundava

O alicerce ortodoxo da economia política clássica inglesa foi a teoria ricardiana de comércio exterior. Seu teorema dos custos comparativos "justificava" como maximizante para todos os integrantes do comércio internacional a especialização nos bens que produzia com maior eficiência. Se cada país se especializasse e obtivesse, pelo comércio internacional, aquilo que tinha menor produtividade interna, haveria o máximo bem-estar das economias interligadas. David Ricardo construiu o argumento perfeito para a hegemonia inglesa, nação que sediou a Primeira Revolução Industrial. Investir, intelectual e politicamente, contra a ortodoxia do país dominante foi a prática dos pais fundadores dos Estados Unidos. Alexander Hamilton defendeu a ideia da industrialização como essencial ao padrão de vida e à soberania nacional das 13 ex-colônias. Friedrich List, em 1841, publica "O Sistema Nacional de Economia Política", que se sucedeu à Zollverein, união aduaneira alemã, de 1834. List explicita que o projeto nacional de desenvolvimento via industrialização é uma exceção ao livre-câmbio e livre-comércio. A Revolução Meiji realiza uma modernização à força no Japão, sob o argumento de que sacrifícios no presente produziriam felicidade no futuro. A França, de Napoleão III, também critica Ricardo e defende a prioridade da industrialização nacional. O denominador histórico comum de todas essas experiências de industrialização consiste na adesão ao livre-câmbio e livre- comércio, tão logo esteja consolidada sua maturidade industrial. Foram poucas as nações que se industrializaram e nenhuma nação latino-americana, no século XIX e década iniciais do século XX.

Uma retórica geopolítica pretendendo superar o atraso pela boa convivência de nações foi recorrente. Por exemplo, o brasileiro Rui Barbosa, que conhecia a heterodoxa visão de finanças industrializantes dos fundadores americanos, defendeu o "desenvolvimento" da periferia na famosa e inútil 2ª Conferência de Haia, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial e no umbral da Grande Crise de 1929, Mihail Manoïlesco, ministro da Indústria e Comércio da Romênia, defendeu, em "Teoria do Protecionismo e da Permuta Internacional", a industrialização como único caminho para a superação do atraso. Essa defesa explicitou o argumento-chave de indústria nascente e das relações interindustriais de um sistema industrial nacional. O brasileiro Roberto Simonsen, presidente do Centro das Indústrias de São Paulo, traduziu e publicou, em 1931, o trabalho do economista romeno. A ideia da industrialização como projeto nacional impregnou a gestão Getúlio Vargas durante os anos 30 e a Segunda Guerra Mundial. O ideal de produzir as máquinas que fazem máquinas apareceu no discurso do obelisco, precedendo o governo Vargas, que realizou uma política keynesiana antes da publicação do clássico livro de Keynes.

Ouso dizer que a obra de Prebisch, menos pelo pioneirismo e mais pela oportunidade, decisão, habilidade e poder mobilizador, foi um voo de coruja decisivo para o esforço latino-americano de superação do atraso. O conceito de América Latina foi consolidado e tornado, em alto nível de abstração, homogêneo pela crítica atualizada e politizada da ortodoxia das economias dominantes. Prebisch, com visão política historicamente correta, evitou refletir sobre as estruturas internas dos países latino-americanos. Apesar do trabalho intelectual de economistas latino-americanos como Aníbal Pinto Santa Cruz e Celso Furtado, que mergulharam na heterogeneidade e na formação histórica singular de cada país latino-americano, o sonho bolivariano da integração recebeu um forte estímulo a partir do Manifesto, de Prebisch, e do trabalho dos estruturalistas da Cepal.

Em tempos de crise, a coruja voa revitalizando o passado, porém o fato mais relevante do momento atual é o desenvolvimento da China e não pode ser atribuído a nenhuma receita ortodoxa de livre-comércio e livre-câmbio. Não é uma economia de mercado. Regula - de perto e com instrumentos estatais variados, discriminatórios e poderosos - finanças, câmbio e atuação empresarial. O maior sucesso nacional do momento é, em si, questionador frontal da ortodoxia neoliberal.

Prebisch, hoje, teria se debruçado sobre a experiência chinesa e chamaria a atenção para a geopolítica dominante que a China vem fazendo no chamado Terceiro Mundo.

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Entrevista do economista Barry Eichengreen sobre a crise na zona do euro.

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Entrevista: A Europa precisa da Grécia de alguma forma recuperada, seja qual for o preço a pagar para todos saírem da crise, diz Barry Eichengreen.
Nas mãos de Atenas
Alex Ribeiro | De Washington
22/07/2011


Eichengreen: "Foi um erro criar uma união monetária incluindo esses países mais fracos (com) um só banco central, sem criar fundos de socorro e mecanismos de disciplina fiscal"
Cada país infeliz da Zona do Euro é infeliz à sua própria maneira, por excesso de dívida pública, privada ou bancária, ou por falta de crescimento econômico. Mas todos devem se manter juntos na união monetária, porque abandoná-la traria consequências devastadoras

Em entrevista ao Valor, um dos mais respeitados estudiosos dos sistemas monetários internacionais, o economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórina, em Berkeley, usa a primeira frase do romance "Anna Karenina", do escritor russo Leon Tolstoi, para explicar as mazelas econômicas que levaram a Europa à crise atual. "Cada família infeliz é infeliz do seu próprio jeito", afirma Eichengreen. "Cada país europeu é infeliz à sua maneira."

Agora que a Europa caminha para reestruturar a dívida pública da Grécia, muitos duvidam que o país permanecerá na Zona do Euro. Custos e salários estão muito altos, e a saída natural seria uma desvalorização cambial para recuperar a competitividade das exportações.

Outra alternativa é deflacionar custos e salários, mas esse processo é lento e doloroso. A economia grega caiu 7,5% desde o pico de seu PIB, em 2008, o desemprego supera 16%, mas a taxa real de câmbio do país se desvalorizou apenas 6% nos últimos 12 meses. Alguns economistas estimam que o ajuste cambial terá que ser quatro ou cinco vezes maior que isso.

A eventual notícia de que o governo grego estaria cogitando a volta ao dracma provocaria "a maior e mais violenta crise que o mundo já viu"

Eichengreen diz que, apesar de todo o esforço que o ajuste exigirá, a Grécia permanecerá integrada ao euro, porque a alternativa de deixá-lo é simplesmente assustadora, com inevitável caos econômico, financeiro e político. Em qualquer hipótese, o país terá que receber ajuda da Europa para sair do nó cambial. "Os 50 anos de história da Europa dizem que, sempre que eles estão diante da escolha de ir adiante ou recuar, eles vão adiante e aprofundam a integração", observa Eichengreen.

Valor: O que levou a Europa à situação atual?

Barry Eichengreen: Como diz a primeira frase do livro "Anna Karenina", cada família infeliz é infeliz do seu próprio jeito. Cada país europeu é infeliz à sua maneira. Na Grécia, é a dívida pública; em Portugal, a dívida privada; na Irlanda, a dívida bancária; na Espanha, a combinação disso tudo; na Itália, a incapacidade de a economia crescer. Mas a crise foi agravada pela incapacidade das autoridades europeias em conter sérios problemas na Grécia. Isso permitiu que se alastrassem dúvidas sobre outros países.

Valor: O problema não seria o euro?

Eichengreen: O euro é parte disso. Ele contribuiu para o desenvolvimentos de muitos dos problemas. A Grécia teve permissão para ingressar no euro e os investidores, por muito tempo, acharam que esse seria um bom país para investir. Eles ignoraram os problemas fiscais, viram a entrada no euro como uma espécie de selo de qualidade e emprestaram à vontade, sem se preocupar com os riscos. E agora, quando a crise surgiu, ser membro do euro fecha uma das alternativas que países tradicionalmente usaram para se ajustar e sair de crises: desvalorizar a moeda. Essa não é uma opção ao alcance. Foi um erro criar uma grande união monetária incluindo esses países relativamente mais fracos, como a Grécia. Também foi um problema criar uma união monetária com uma só moeda e um só banco central, sem criar fundos adequados de socorro e mecanismos apropriados de disciplina fiscal.

Valor: O euro é o culpado pelo baixo crescimento econômico da Europa na última década?

Bloomberg

"O ajuste será doloroso", prevê Eichengreen, numa Grécia em que se multiplicam os protestos de rua contra medidas que já vão sendo tomadas pelo governo
Eichengreen: Se você olhar a produção por hora de trabalho, a Europa tem se saído igual aos Estados Unidos. A Europa é diferente dos Estados Unidos porque lá as pessoas trabalham menos horas. A Europa também tem uma demografia diferente, a população e a força de trabalho têm crescido menos. Mas sua produtividade tem crescido no mesmo ritmo que nos Estados Unidos. Alguns países europeus, como a Alemanha, se saíram até melhor que os Estados Unidos na última década. Em outros, como Portugal e Itália, a produtividade se manteve estagnada. Isso ocorreu porque há rigidez nas economias domésticas, eles têm mercados de trabalho bastante regulados. Além disso, tem a China, que tomou o mercado de produtos que esses países europeus produziam e exportavam, como têxteis e roupas. Não colocaria a culpa no euro. Mas o fato de que esses países puderam tomar tanto dinheiro emprestado a preços tão baixos, em virtude de estarem na Zona do Euro, permitiu que adiassem a decisão de lidar com esses problemas.

Valor: Existe algo em comum com os problemas que surgiram com os regimes de câmbio fixo da América Latina nos anos 1990?

Eichengreen: Vejo algo em comum com a Argentina e o Brasil da década de 1990. Um sistema de câmbio fixo não garante disciplina fiscal. Com a taxa de câmbio fixo, às vezes os investidores não veem os riscos, não veem movimentos na moeda, não veem inflação. Pressupõem que tudo está bem, quando nem sempre está. De fato, há semelhanças entre a Argentina com o "currency board" de antes de 2001 e o efeito do euro em Portugal, Grécia e Irlanda. Mas também há diferenças. Se você tem um "currency board", você ainda tem sua própria moeda, então pode decidir mudar sua taxa de câmbio se as coisas não saem bem. A Grécia não tem essa opção. Teria que reintroduzir o dracma (a antiga moeda) para desvalorizar o câmbio e isso poderia ser muito difícil tecnicamente, financeiramente e politicamente, até mais difícil do que o abandono do "currency board" pela Argentina em 2001.

Valor: Por quê?

Eichengreen: Isso teria que ser debatido no parlamento grego, eles teriam que passar uma legislação para reintroduzir o dracma. Na primeira manhã em que as pessoas ouvirem que há um debate do gênero, vão tirar todo o dinheiro dos bancos gregos e enviar para Frankfurt. Iriam vender os títulos gregos e aplicar o dinheiro em títulos alemães. Essa seria a maior e mais violenta crise que o mundo já viu. Exigiria que a Grécia fechasse seu sistema bancário e financeiro. Além disso, teria toda a dificuldade técnica de reescrever os programas de computadores usados pelos bancos. Levou dois anos para eles prepararem os computadores para entrar no euro, entre 1999 e 2001. O tratado da União Europeia não prevê que um país saia da zona do euro. A única maneira de fazer isso é sair da União Europeia, o que colocaria em perigo toda a relação da Grécia com o resto da Europa. E, finalmente, o ponto mais importante é que uma eventual saída da Grécia do euro iria incutir na cabeça das pessoas a ideia de que outros países poderão fazer o mesmo. É algo que colocaria em perigo toda a estabilidade do euro. Acho que se parceiros da Grécia na Zona do Euro - a Alemanha, a França e outros -, virem que a Grécia considera deixar o euro, automaticamente vão lhe dar mais ajuda, para evitar colocar todo o projeto em perigo.

"O cenário mais provável é que os políticos europeus percebam que precisam avançar. [Acho que] vão chegar a um acordo"

Valor: Que tipo de solução se pode esperar para a dívida grega?

Eichengreen: Podemos esperar três tipos de coisas. Primeiro, a dívida publica será reestruturada porque o país não é capaz de pagá-la. Segundo, como grande parte da dívida pública está nas mãos de bancos locais, a Grécia precisará de ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para os recapitalizar. Terceiro, o Banco Central Europeu terá que evitar que a reestruturação na Grécia leve ao receio de reestruturação em outros países da Europa. O BCE terá que comprar títulos da Espanha, Itália e de outros países europeus no mercado secundário, para evitar que os "spreads" disparem.

Valor: Na América Latina, sempre que houve reestruturação de dívidas, teve-se também desvalorização da moeda, para recuperar o crescimento econômico. Isso será possível para a Grécia?

Eichengreen: Será difícil para a Grécia crescer em qualquer circunstância. Será mais difícil do que para a América Latina nos anos 1990, depois do Plano Brady, porque não há a opção da desvalorização. Existem dois tipos de desvalorização. Desvalorização [nominal] da moeda ou desvalorização interna. Na desvalorização interna, você tem que reduzir salários e benefícios e outros custos em 20% ou 30%. Isso é o que a Grécia será forçada a fazer, com ajuda de fora. Aí poderá crescer. A Grécia pode desenvolver uma produção agrícola de alto valor agregado. Por que a Itália e a França são conhecidos por produzir vinhos de alta qualidade e a Grécia não? A Grécia pode se tornar uma produtora de vinhos, azeites e outros produtos com sua própria marca. Também pode exportar energias limpas, porque está localizada numa região apropriada para usinas solares e eólicas. Também pode desenvolver sua indústria de turismo ou se tornar um portal de distribuição de produtos no Mediterrâneo.

Valor: Deflacionar salários não seria um processo muito longo e doloroso?

Eichengreen: É por isso que a Grécia precisa da ajuda de fora. O ajuste será doloroso. Mas não é correto afirmar que a Grécia chegou a essa situação por sua própria culpa e que, portanto, deve arcar com as consequências sozinha. Os países europeus contribuíram para que se chegasse a essa situação. Permitiram sua entrada na união monetária embora tivesse problemas estruturais, apesar de seu orçamento fiscal ser apenas uma peça de ficção. Fecharam os olhos quando os bancos alemães e franceses emprestaram muito para a Grécia. Os outros países europeus são também responsáveis e agora devem ajudar com dinheiro, fazer empréstimos com juros baixos, essas coisas. Com ajuda, a dor será tolerável, mas concordo que não se sabe o que acontecerá se não houver ajuda.

Valor:

AP

A Alemanha de Angela Merkel, hoje em situação privilegiada na economia europeia, terá papel primordial nos arranjos para ajuda à Grécia
Não é um problema para a sobrevivência do euro que alguns de seus membros entrem em "default"?
Eichengreen: A união monetária pode funcionar muito bem. Quando houve problemas fiscais em Estados brasileiros, na década de 1990, não houve rompimento na união monetária brasileira. Quando o Orange County entrou em "default" nos anos 1990, o Estado da Califórnia não deixou o dólar. As pessoas vão voltar a prestar mais atenção aos riscos dentro da união monetária, e isso é muito bom.

Valor: Outros países, do Leste Europeu, vão se juntar ao euro depois dessa crise?

Eichengreen: Vão primeiro ver o que acontece. No fim das contas, o que eles querem é que as falhas na União Europeia sejam corrigidas.

Valor: Pode-se esperar uma regra fiscal mais dura na Europa?

Eichengreen: É como o debate aqui nos Estados Unidos sobre aumentar o teto da dívida pública. A alternativa de não fazê-lo é muito assustadora para se levar em consideração. A Europa precisa completar sua união monetária, porque a alternativa de não fazê-lo é simplesmente assustadora, é mais caos econômico, financeiro e político. Eles terão que consertar a regulação e supervisão bancárias, vão ter que consertar o modo como monitoram as finanças públicas e os desequilíbrios privados.

Valor: Existe um risco, mesmo que pequeno, de o euro ser dissolvido?

Eichengreen: Não acho que podemos descartar isso. O cenário mais provável é que os políticos europeus percebam que precisam avançar. Os 50 anos de história da Europa dizem que, sempre que eles estão diante da escolha de ir adiante ou recuar, vão adiante e aprofundam a integração. É mais difícil agora, porque há uma nova geração de líderes, as circunstâncias mudaram. Mas continuo a achar que vão chegar a um acordo político.

Valor: Ainda se pode imaginar o euro como uma moeda de reserva internacional?

Eichengreen: Num cenário em que se consertam as falhas da união monetária, sim. Daqui a dez anos teremos três grandes economias no mundo, os Estados Unidos, a Europa e a China, e três moedas, o dólar, o euro e o yuan.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Itália é a bola da vez

A Itália é a bola da vez a ser arrastada para a crise da divida soberana que atinge a zona do Euro. Irlanda, Grécia, Portugal, evitaram a quebradeira socorrendo-se de empréstimos ao FMI e Banco Central Europeu, pagando o preço salgado do ajuste fiscal. Espanha vai se arrastando, mergulhada na crise econômica, cujos resultados é um elevado desemprego, que chega a 20% da população economicamente ativa.
Agora é a vez da Itália. Esse pais tem uma combinação explosiva: um governo desacreditado, sem poder de fogo para imprimir um ritmo de reformas fiscais, somado a uma divida publica que atinge 120% do seu PIB. É muito elevada, sem duvida.
Clóvis Rossi argumenta em artigo hoje na Folha de São Paulo que há muito tempo a Itália carrega esse fardo, de uma divida publica elevada, sem que isso tenha gerado crise. Que trata-se de os tubarões dos mercados financeiros investirem contra a economia desse pais para auferir ganhos. Ok, concordemos co o Clóvis Rossi ! Ele tem razão! Mas o fato é que isso não vai livrar a Itália de ser a próxima vitima. E o pior: é a terceira economia da Europa. Imagine o tsunami que está a caminho.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

EUA e Japão ajudam, mas China segue devendo, conjuntura econômica do repórter Eduardo Campos para jornal Valor

Com a Grécia fora do radar, o foco dos investidores agora é outro e os primeiros sinais de que o segundo semestre pode apresentar maior crescimento econômico já começaram a aparecer.

Nos Estados Unidos, o ISM industrial surpreendeu para cima, se somando ao índice de atividade em Chicago. O que não agradou muito, mas não fez preço, foi a queda da confiança do consumidor.

O Japão também começa a respirar após a devastação promovida pelo terremoto, tsunami e desastre nuclear.

A produção industrial teve a maior retomada em 50 anos durante o mês de maio. E embora a pesquisa Tankan com grandes industriais tenha mostrado um número maior de pessimistas do que de otimistas, as empresas japonesas pretendem contratar e investir mais nos próximos meses.

Essa percepção de melhora, mesmo que incipiente, está entre as explicações para o desempenho positivo das bolsas, que tanto aqui quanto em Nova York tiveram a melhor semana do ano, e para a queda do dólar antes seus principais rivais.

Dólar volta a 1999, mas não desperta ameaças do governo

Mas nem todos os sinais foram francamente positivos.

A China continua desacelerando. Dois indicadores, sendo um oficial e outro privado, mostram retração da atividade fabril em junho. Os índices, no entanto, ainda estão acima dos 50 pontos, linha que separa crescimento de retração.

Tal comportamento não surpreende muito, já que o Banco Central chinês tomou uma série de medidas para que isso acontecesse.

Fica a dúvida, no entanto, de até quando essa desaceleração perdura. Pergunta de grande importância para o mercado brasileiro, tendo em vista a estreita correlação entre a economia local e a chinesa.

No limite, uma desaceleração prolongada da economia chinesa poderia tirar força das commodities, o que prejudica as exportações brasileiras, tanto por volume quanto por preços relativos.

Esse mesmo cenário tira brilho do mercado de ações, já que empresas ligadas às matérias-primas respondem por cerca de 50% do Ibovespa.

A fotografia desse momento mostra sinais conflitantes. Retomada nos EUA e baixa na China. Vale lembrar que a evolução desse quadro é importante, mas não determinante, já que as notícias ganham a interpretação que melhor convém dependendo do humor dos mercados.

Nos Estados Unidos, a confiança na recuperação pode ganhar força, ou ir morro abaixo, dependendo dos dados sobre o mercado de trabalho. A criação de vagas de junho será conhecida na sexta-feira, bem como a taxa de desemprego.

Aqui no para o mercado local, a semana deve começar morna, já que Wall Street, nosso principal referencial externo, não opera em função de feriado.

Na agenda local, o ponto alto é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho. Não deve haver deflação, mas um número próximo de 0,10%.

Na Europa, Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (BoE) têm reuniões de política monetária.

No Reino Unido a taxa básica deve permanecer em 0,5% ao ano. Já na zona do euro a previsão é de alta de 0,25 ponto, com o juro básico avançando de 1,25% para 1,50%. Tal consenso foi formado na semana passada após declarações do presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, que falou que o banco está em modo de "forte vigilância".

Na sexta-feira, os vendedores não deram trégua e o dólar caiu a R$ 1,558, baixa de 0,25%, e menor preço desde 19 de janeiro de 1999. Na semana, a moeda perdeu 2,87%.

A ideia de que algum repique de alta acontecerá no curto prazo segue válida. Na sexta-feira, essa expectativa pegou gente no "pé trocado". Alguns agentes dormiram comprados de quinta para a sexta-feira esperando o repique. Até houve um ensaio de alta, mas, como ele não se confirmou, esses agentes se viram obrigados a zerar posições. Algo que somou pressão de venda ao longo do pregão.

Chama atenção o silêncio do governo (ao menos até o momento), já que das últimas vezes que o dólar flertou com o R$ 1,55, foram feitas ameaças de novas medidas restritivas. Seja oficialmente ou via noticiário atribuído a "fontes próximas" a alguém importante.


No mercado de juros futuros, a puxada de alta de fim de mês foi devolvida na abertura de julho. Os contratos de prazo mais dilatado ajustaram para baixo, no que foi classificado de realização de lucros.

Olhando os vencimentos curtos, parece que a aposta de que o ajuste da Selic vai até agosto continua atraindo novos adeptos. Para o encontro de 20 julho do Comitê de Política Monetária (Copom) já está contratada alta de 0,25 ponto, que traria o juro básico para 12,50%.