A estação alternativa de rádio estadunidense Democracy Now entrevistou à distância o linguista, filósofo e activista libertário Noam Chomsky, em vésperas do seu 82º aniversário Amy Goodman
Democracy Now
Numa entrevista exclusiva falamos com o dissidente político e linguista de fama mundial Noam Chomsky sobre a publicação de mais de 250.000 telegramas secretos do Departamento de Estado dos EUA, por parte da WikiLeaks. Em 1971 Chomsky ajudou o informador de dentro do governo [estadunidense] Daniel Ellsberg a publicar os “Documentos do Pentágono”, um relatório interno secreto dos Estados Unidos sobre a guerra do Vietname. Em comentário a uma das revelações, de que vários líderes árabes pressionam os EUA para atacarem o Irã, Chomsky diz: “As últimas sondagens mostram que a opinião dos árabes é que a maior ameaça na região é Israel, com 80% dos entrevistados, e em segundo lugar vêm os EUA com 77%. O Irã aparece como uma ameaça para 10%”, explica. “Isto pode não aparecer na imprensa, mais de certeza algo que os governos israelita e estadunidense, e os seus embaixadores, sabem. O que isto revela é o profundo ódio à democracia por parte dos nossos dirigentes políticos”.
Amy Goodman: Encontramo-nos com o distinto dissidente político e linguista de reputação mundial Noam Chomsky, professor emérito do Massachusetts Institute of Technology e autor de mais de cem livros, incluindo o seu mais recente Esperanças e realidades, para obter a sua reacção aos documentos da WikiLeaks. Há quarenta anos, Noam e Howard Zinn ajudaram o denunciante de dentro do governo Daniel Ellsberg a editar e publicar os “Documentos do Pentágono”, a história interna ultra-secreta dos EUA da guerra do Vietname. Noam Chomsky fala-nos a partir de Boston… Antes de falarmos da WikiLeaks, qual foi a sua participação nos “Documentos do Pentágono”? Não creio que a maioria das pessoas esteja informada sobre isso.
Noam Chomsky: Dan e eu éramos amigos. O Tony Russo também os preparou e ajudou a filtrá-los. Recebi cópias do Dan e do Tony e várias pessoas as distribuíram à imprensa. Eu fui uma delas. Então o Howard Zinn e eu, como você disse, editámos um volume de ensaios e indexámos os documentos.
Amy Goodman: Explique como funcionou. Penso sempre que é importante contar essa história, especialmente aos jovens. Dan Ellsberg – funcionário do Pentágono com acesso ao máximo segredo – saca da sua caixa de fundos essa história da intervenção dos EUA no Vietname, fotocopia-a, e então como veio parar às suas mãos? Entregou-lha directamente a si?
Noam Chomsky: Chegou-me por intermédio de Dan Ellsberg e de Tony Russo, que tinham feitos as fotocópias e preparado o material.
Amy Goodman: Foi muito editado?
Noam Chomsky: Bem, nós não modificámos nada. Não corrigimos os documentos. Ficaram na sua forma original. O que fizemos, o Howard Zinn e eu, foi preparar um quinto volume além dos quatro que apareceram, que continha ensaios críticos de muitos peritos sobre os documentos, o que significavam, etc. E um índice, que é quase imprescindível para poderem ser seriamente utilizados. É o quinto volume da série da Beacon Press.
Amy Goodman: Então foi um dos primeiros a ver os documentos do Pentágono?pentagono
Noam Chomsky: Sim, para além do Dan Ellsberg e do Tony Russo. Quer dizer, talvez tenha havido alguns jornalistas que puderam vê-los, mas não tenho a certeza.
Amy Goodman: E actualmente, o que pensa? Por exemplo, acabamos de reproduzir o vídeo do congressista republicano Peter King, que diz que se deveria declarar a WikiLeaks como organização terrorista estrangeira.
Noam Chomsky: Penso que é revoltante. Temos de compreender – e os Documentos do Pentágono são outro exemplo claro – que uma das principais razões do segredo governamental é proteger o governo contra a sua própria população. Nos Documentos do Pentágono, por exemplo, houve um volume – o volume das negociações – que poderia ter tido influência nas actividades em curso, e o Daniel Ellsberg não o revelou logo. Apareceu pouco depois. À vista dos documentos propriamente ditos, há coisas que os estadunidenses deveriam ter sabido e que outros queriam que não se soubessem. E, que eu saiba, pelo que eu próprio vi deste caso, agora é o mesmo. De facto, as revelações actuais – pelo menos as que eu vi – são interessantes, sobretudo pelo que nos esclarecem sobre como funciona o serviço diplomático.
Amy Goodman: As revelações dos documentos acerca do Irã aparecem precisamente no momento em que o governo iraniano aceitou uma nova ronda de conversações nucleares para o começo do próximo mês. Na segunda-feira, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu disse que os telegramas reivindicam a posição israelita de que o Irã constitui uma ameaça nuclear. Netanyahu disse: “A nossa região tem estado presa a uma narrativa que é o resultado de sessenta anos de propaganda que apresenta Israel como principal ameaça. De facto, os dirigentes compreendem que esse ponto de vista está na falência. Pela primeira vez na história existe um acordo de que a ameaça é o Irã. Se os dirigentes começarem a dizer às claras aquilo que têm dito à porta fechada, podemos realizar uma mudança radical na caminhada para a paz.” A secretária de Estado Hillary Clinton também falou do Irã na sua conferência de imprensa em Washington. Disse o seguinte:
Hillary Clinton: “Creio que não deveria ser surpresa para ninguém que o Irã é uma fonte de grande preocupação, não só para os EUA. Em todas as reuniões que tenho, em qualquer parte do mundo, aparece a preocupação com as acções e as intenções do Irã. Por isso, qualquer dos alegados comentários dos telegramas confirma que o Irã representa uma ameaça muito séria do ponto de vista dos seus vizinhos e uma preocupação muito séria muito para além da sua região. Por isso a comunidade internacional se reuniu para aprovar as sanções mais duras possíveis contra o Irã. Isso não aconteceu porque os EUA tivessem dito ‘Por favor, façam isso por nós!’. Aconteceu porque os países – depois de avaliarem as provas quanto às acções e às intenções do Irã – chegaram à mesma conclusão que os EUA: que temos de fazer o que pudermos com o fim de unir a comunidade internacional para que ela actue e impeça o Irã de se converter em um Estado com armas nucleares. De modo que, se os que lerem as histórias sobre esses, em supostos telegramas, pensarem cuidadosamente, chegarão à conclusão de que as preocupações com o Irã são bem fundadas, são amplamente partilhadas e continuarão a ser fundamento para a política que mantemos com os países que têm a mesma opinião, para impedir que o Irã adquira armas nucleares.”
Amy Goodman: Assim falou a secretária Hillary Clinton, ontem, numa conferência de imprensa. Qual o seu comentário sobre Clinton, sobre o comentário de Netanyahu, e o facto de Abdullah da Arábia Saudita – o rei que está a ser operado às costas em Nova Iorque – ter incitado os EUA a atacarem o Irã.
Noam Chomsky: Isso só vem reforçar o que eu disse antes, que o significado principal dos telegramas que têm sido publicados é, até agora, o que nos dizem sobre os dirigentes políticos ocidentais. Hillary Clinton e Benjamin Netanyahu de certeza conhecem as cuidadosas sondagens da opinião pública árabe. O Brookings Institute publicou há poucos meses amplas sondagens sobre o que pensam os árabes acerca do Irã. Os resultados são bastante impressionantes. Mostram que 80% da opinião árabe considera que a maior ameaça na região é Israel. A segunda maior ameaça são os EUA, com 77%. E o Irã só é referido como ameaça por 10%. No que diz respeito às armas nucleares, de um modo bastante notável, há 57% que diz que, se o Irã possuísse armas nucleares, isso teria um efeito positivo na região. Pois bem, não se trata de cifras pequenas. 80% e 77%, respectivamente, dizem que Israel e os EUA constituem a maior ameaça. 10% dizem que o Irã é a maior ameaça.
Claro que, aqui, os jornais nada dizem sobre isso – dizem-no na Inglaterra – mas é certamente algo que os governos de Israel e dos EUA e os seus embaixadores sabem muito bem. Mas não se vê aparecer uma palavra sobre isso. O que isso revela é o profundo ódio à democracia por partes dos nossos dirigentes políticos e dos dirigentes políticos israelitas. São coisas que nem referidas podem ser. Isso impregna todo o serviço diplomático. Não há nenhuma referência a isso nos telegramas.
Quando falam dos árabes referem-se aos ditadores árabes, não à população, que se opõe rotundamente às conclusões dos analistas, neste caso Clinton e os médias [a mídia]. Também há um problema menor que é o maior problema. O problema menor é que os telegramas não nos dizem o que pensam e dizem os dirigentes árabes. Sabemos o que foi seleccionado daquilo que disseram. De modo que há um processo de filtragem. Não sabemos o quanto a informação é distorcida. Mas não restam dúvidas: o que é mesmo uma distorção radical – ou nem sequer uma distorção, mas sim um reflexo – é a preocupação de que o que importa são os ditadores. A população não importa, mesmo se se opõe totalmente à política estadunidense. Há coisas semelhantes noutros sítios, como as que têm a ver com essa região.
Um dos telegramas mais interessantes foi aquele de um embaixador dos EUA em Israel para Hillary Clinton, que descrevia o ataque a Gaza – que deveríamos chamar o ataque israelo-estadunidense a Gaza – em Dezembro de 2008. Indica correctamente que houve uma trégua. Não acrescenta que durante a trégua – que de facto Israel não respeitou mas o Hamas respeitou escrupulosamente segundo o próprio governo israelita –, não foi disparado um só míssil. É uma omissão. Mas logo surge uma mentira directa: diz que em Dezembro de 2008 o Hamas retomou o disparo de mísseis e que por isso Israel teve de atacar para se defender. Acontece que o embaixador não pode deixar de saber que há alguém na embaixada dos EUA que lê a imprensa israelita – a imprensa israelita dominante – e nesse caso a embaixada tem de saber que é exactamente o contrário: o Hamas estava a pedir uma renovação do cessar-fogo. Israel considerou a oferta, recusou-a e preferiu bombardear em vez de optar pela segurança. Também omitiu que Israel nunca respeitou o cessar-fogo – manteve o cerco [a Gaza] em violação do acordo de trégua – e em 4 de Novembro, dia da eleição de 2008 nos EUA, o exército israelita invadiu Gaza e matou meia dúzia de militantes do Hamas, o que motivou trocas de tiros em que todas as vítimas, como de costume, foram palestinianas. De imediato, em Dezembro, quando terminou oficialmente a trégua, o Hamas pediu que ela fosse renovada. Israel recusou e os EUA e Israel preferiram lançar a guerra. O relatório da embaixada é uma falsificação grosseira, e é muito significativa porque tem a ver com a justificação do ataque assassino, o que significa que ou a embaixada não fazia ideia do que estava a acontecer ou estava a mentir descaradamente.
Amy Goodman: E o último relatório que acaba de aparecer – da Oxfam, da amnistia Internacional e de outros grupos – sobre os efeitos do cerco de Gaza? O que está a acontecer agora?
Noam Chomsky: Um cerco é um acto de guerra. Se alguém insiste nisso é Israel. Israel desencadeou duas guerras – 1956 e 1967 – em parte na base de que o seu acesso ao mundo exterior estava muito restringido. Esse mesmo cerco parcial que consideraram como um acto de guerra e como justificação – bem, uma entre várias justificações – para o que chamaram “guerra preventiva” ou, se preferir, profilática. Assim o entendem perfeitamente e o argumento é correcto. Um cerco é, desde logo, um acto criminoso. O Conselho de Segurança, e não só, instaram Israel a que o levantasse. Tem o propósito – como declararam os funcionários israelitas – de manter o povo de Gaza num nível mínimo de existência. Não querem gaza-1matá-los todos porque não seria bem visto pela opinião internacional. Como eles dizem, “mantê-los em dieta”.
Esta justificação começou pouco depois da retirada oficial israelita. Houve umas eleições em Janeiro de 2006 – as únicas eleições livres em todo o mundo árabe – cuidadosamente monitorizadas e reconhecidas como livres, mas tiveram um defeito. Ganharam os que não deviam ganhar. Ou seja, o Hamas, os que Israel e os EUA não queriam. Rapidamente, em muito poucos dias, os EUA e Israel impuseram duras medidas para castigar o povo de Gaza por ter votado mal em eleições livres. O passo seguinte foi que eles – os EUA e Israel – trataram, em colaboração com a Autoridade Palestiniana, de provocar um golpe militar em Gaza para derrubar o governo eleito. Fracassou. O Hamas derrotou a tentativa de golpe. Foi em Julho de 2007. Então endureceram consideravelmente o assédio. Entretanto ocorreram numerosos actos de violência, bombardeamentos, invasões, etc.
Mas basicamente Israel afirma que, quando se estabeleceu a trégua no verão de 2008, o motivo por que Israel não a observou, retirando o cerco, foi o facto de um soldado israelita – Gilad Shalit – ter sido capturado na fronteira. Os comentadores internacionais consideram isso um crime terrível. Bem, pode-se pensar o que for, a captura de um soldado de um exército atacante – e o exército estava a atacar Gaza – não chega aos calcanhares do crime que é sequestrar civis. Precisamente na véspera da captura de Gilal Shalit na fronteira, as tropas israelitas tinham entrado em Gaza, sequestraram dois civis – os irmãos Muammar – e levaram-nos para o outro lado da fronteira. Desapareceram algures no sistema carcerário de Israel, onde centenas de pessoas, talvez mil, são detidas sem acusação por vezes durante anos. Também há prisões secretas. Não sabemos a que se passa nelas. Isto é, por si só, um crime muito pior do que o sequestro de Shalit. De facto, poder-se-ia argumentar que houve uma razão para se ter silenciado o facto. Israel, durante anos, de facto durante décadas, tem vindo a comportar-se assim: raptos, capturas de pessoas, sequestros de barcos, assassinatos, levar gente para Israel por vezes como reféns durante anos e anos. De modo que isso é uma prática habitual; Israel pode fazer o que entende. Mas a reacção, aqui e no resto do mundo, ao sequestro de Shalit – que não é um sequestro, não se sequestra um soldado, mas captura-se – é considerá-lo um crime horrendo e uma justificação para manter o cerco e assassinar… uma desgraça.
Amy Goodman: Então temos a Amnistia Internacional, a Oxfam, a Save The Children e outras dezoito organizações de ajuda a instarem Israel para que levante, sem condições, o bloqueio a Gaza. E a WikiLeaks publica um telegrama diplomático estadunidense – transmitido ao Guardian pela WikiLeaks – que conta: “Directiva nacional de recolha de informações humanas: Pede-se ao pessoal dos EUA que obtenha pormenores de planos de viagem, como itinerários e veículos utilizados por dirigentes da Autoridade Palestiniana e membros do Hamas”. O telegrama pede: “Informação biográfica, financeira, biométrica de dirigentes e representantes mais importantes da A.P. e do Hamas, incluindo a Jovem Guarda, dentro de Gaza e da Cisjordânia, e fora”, diz.
Noam Chomsky: Isso não deveria ser uma surpresa. Contrariamente à imagem que é projectada neste país, os EUA não são um intermediário honesto. São participantes, e participantes directos e cruciais, nos crimes israelitas, tanto na Cisjordânia como em Gaza. O ataque a Gaza foi um caso claro: utilizaram armas estadunidenses, os EUA bloquearam as tentativas de cessar-fogo e deram apoio diplomático. O mesmo vale para os crimes diários na Cisjordânia, e não devemos esquecê-los. Na realidade, a [ONG] Save The Children informou que na área C – a parte da Cisjordânia controlada por Israel – as condições são piores do que em Gaza. Também isto acontece porque há um apoio crucial e decisivo dos EUA, tanto no plano militar como no económico; e também ideológico – o que tem a ver com a distorção da situação, como acontece também, dramaticamente, com os telegramas.
O próprio cerco é, em si mesmo, simplesmente criminoso. Não somente bloqueia a ajuda desesperadamente necessária como, além disso, afasta os palestinianos da fronteira. Gaza é um local pequeno e superpovoado. E os tiros e os ataques israelitas afastam os palestinianos do território árabe junto da fronteira e também impõe aos pescadores de Gaza o limite das águas territoriais. São forçados por canhoneiras israelitas – é tudo o mesmo, claro está – a pescar junto à costa onde a pesca é quase impossível porque Israel destruiu os sistemas eléctricos e de saneamento e a contaminação é terrível. É apenas um estrangulamento para castigar as pessoas por estarem ali e por insistirem em votar “mal”. Israel decidiu: “Não queremos mais isto. Livremo-nos deles.”
Também deveríamos lembrar que a política israelo-estadunidense – desde Oslo, desde o começo dos anos 1990 – foi osloseparar Gaza da Cisjordânia. É uma violação directa dos acordos de Oslo, mas foi sendo implementada sistematicamente e teve muitas consequências. Significa que quase metade da população palestina ficaria à margem de qualquer possível acordo político a que se pudesse chegar. Também significa que a Palestina perde o seu acesso ao mundo exterior. Gaza deveria ter aeroportos e portos marítimos. Até agora Israel apoderou-se de cerca de 40% do território da Cisjordânia. As últimas ofertas de Obama oferecem-lhe ainda mais, e certamente os israelitas planeiam apoderar-se de mais. O que resta são pedaços de território cercados. É o que o planificador Ariel Sharon chamou bantustões. E estão também na prisão, enquanto Israel se apodera do Vale do Jordão e expulsa os palestinianos. Todos esses são crimes de uma só peça. O cerco de Gaza é particularmente grotesco dadas as condições de vida a que obriga as pessoas. Quero dizer, se uma pessoa jovem em Gaza – estudante em Gaza, por exemplo – quer estudar numa universidade da Cisjordânia, não pode fazê-lo. Se uma pessoa de Gaza precisa de um estágio ou de um tratamento médico sofisticado num hospital de Jerusalém Oriental, não pode lá ir! E não deixam passar os medicamentos. É um crime escandaloso, tudo isso.
Amy Goodman: Na sua opinião, que deveriam fazer os EUA neste caso?
Noam Chomsky: Aquilo que os EUA deveriam fazer é muito simples: deveriam unir-se ao mundo. Quero dizer que supostamente existem negociações. Tal como são apresentadas aqui, o quadro tipicamente traçado é de que os EUA são um intermediário honesto que procura unir os opositores recalcitrantes – Israel e Autoridade Palestiniana. Isso não passa de uma farsa.
Se houvesse negociações sérias, seriam organizadas por uma parte neutral e os EUA e Israel estariam de um lado e o mundo estaria do outro. Não é um exagero. Não deveria ser segredo que desde há muito tempo existe um consenso internacional completo para uma solução diplomática, política. Todos conhecem as linhas básicas. Alguns detalhes, sim, poderão ser discutidos. [Nesse consenso] incluem-se todos, excepto os EUA e Israel. Os EUA têm vido a bloquear a solução ao longo de 35 anos, com derivas ocasionais, e breves. [Esse consenso] inclui a Liga Árabe. Inclui a Organização dos Estados Islâmicos, que inclui o Irã. Inclui todos os protagonistas relevantes com excepção dos EUA e de Israel, os dois Estados que o recusam. De modo que, se houvesse alguma vez negociações sérias, é assim que seriam organizadas. As negociações que há chegam apenas ao nível da comédia. O tópico que está a ser discutido é uma nota de rodapé, uma questão menor: a expansão dos colonatos. Claro que é ilegal. De facto, tudo o que Israel está a fazer em Gaza e na Cisjordânia é ilegal. Nem sequer tem sido polémico, desde 1967 (…)
Amy Goodman: Quero ler-lhe agora a mensagem-twitter de Sarah Palin – a ex-governadora do Alaska, claro, e candidata republicana à vicepresidência. É o que ela colocou no twitter sobre a WikiLeaks. Rectifico, foi colocado no Facebook. Ela diz: “Primeiro, e antes de mais, que passos foram dados para impedir que o director da WikiLeaks, Julian Assange, distribuísse esse material confidencial altamente delicado, sobretudo depois de ele já ter publicado material, não uma vez mas duas, nos meses anteriores? Assange não é um jornalista, é-o tanto como um editor da nova revista da al-Qaeda em inglês “Inspire”. É um agente anti-EUA que tem sangue nas mãos. A sua anterior publicação de documentos classificados revelou aos talibãs a identidade de mais de 100 das nossas fontes afegãs. Porque não persegui-lo com a mesma urgência com que perseguimos os dirigentes da al-Qaeda e dos talibãs?” Que lhe parece?
Noam Chomsky: É exactamente o que se esperaria de Sarah Palin. Não sei o que ela entende ou não, mas acho que devemos dar atenção ao que nos dizem as revelações [da WikiLeaks]… Talvez a revelação, ou referência, mais dramática seja o ódio amargo à democracia revelado tanto pelo governo dos EUA – Hillary Clinton e outros – como pelo corpo diplomático. Dizer ao mundo – bem, de facto estão a falar lá entre eles – que o mundo árabe considera o Irã como a principal ameaça e que deseja que os EUA bombardeiem o Irã, é extremamente revelador, sabendo eles, como sabem, que cerca de 80% da opinião árabe considera os EUA e Israel como a maior ameaça, que 10% consideram o Irã como a maior ameaça, e que uma maioria de 57% pensa que a região teria a ganhar se o Irã tivesse armas nucleares, que funcionariam como um dissuasor. Isso, eles nem sequer o referem. Tudo o que referem é apenas o que foi dito pelos ditadores árabes, os brutais ditadores árabes. Isso é que conta.
Não sabemos até que ponto é representativo do que dizem, porque ignoramos qual é o filtro. Mas isto não importa muito. O aspecto mais importante é que [para eles] a população é irrelevante. Só interessam as opiniões dos ditadores que apoiamos. Se nos apoiam, então eles são o mundo árabe. É um quadro bem revelador da mentalidade dos dirigentes políticos dos EUA e, pode-se presumir, da opinião das elites. A avaliar pelos comentários que têm aparecido aqui. E é também o modo como tem sido apresentado na imprensa. O que pensam os árabes, isso não interessa.
Tradução do inglês: Passa Palavra
Fonte: Brasil de Fato
Texto: / Postado em 16/01/2011 ás 08:46
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
Entrevista de Marco Aurélio Garcia à Folha de São Paulo
MARCO AURÉLIO GARCIA
FSP 23/11/2011
Brasil não vai ser alto-falante sobre direitos humanos
Assessor de Dilma Rousseff afirma que o tema será definido na prática, sem criar "tribunal de opiniões"
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA A BRASÍLIA
Os responsáveis pela política externa do governo Dilma ainda tateiam para pôr em prática a orientação da presidente de dar prioridade aos direitos humanos sem agir de modo seletivo, revela entrevista à Folha de Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do Planalto.
O Brasil vai "trabalhar melhor as coisas" nesse tema, mas não será um "alto-falante giratório que vai denunciar todas as violações" nem um "tribunal de opiniões" sobre países árabes e africanos.
No Planalto desde 2003, Garcia elevará sua equipe de 5 para 7 pessoas, para ir além do dia a dia e ter uma "sofisticação maior na reflexão".
Como será o estilo Dilma de diplomacia presidencial? Marco Aurélio Garcia - Será, à sua maneira, um estilo muito ativo. Ela tem um interesse muito grande pelos temas internacionais. A Dilma tem uma gigantesca curiosidade intelectual.
Folha - No Haiti, há pressão de EUA e França para que o presidente Préval aceite o relatório da OEA (Organização dos Estados Americanos), que concluiu que o candidato governista deve ficar fora do 2º turno. Qual é a posição brasileira?
França e EUA podem fazer declarações, mas quem está no Haiti somos nós. Nosso embaixador [Igor Kipman] tem conversado com o governo e ponderado a necessidade de chegarmos a uma solução. Essa solução passaria pela aceitação do relatório.
Mas o relatório não pode ser entendido como coisa imposta. O Haiti tem instituições, e a primeira delas é o Conselho Eleitoral. Temos que pensar com base no respeito à soberania nacional.
O Brasil não tem reservas sobre o conteúdo do relatório?
As informações que nós temos são que o relatório é um retrato bastante aproximado [da votação].
Na nota de Dilma em resposta à carta da parlamentar iraniana, foi dito que o governo tratará os direitos humanos de maneira prioritária, mas de forma não seletiva e não discriminatória. Como será na prática?
A prática é que vai nos mostrar. Temos que trabalhar com cuidado.
A ênfase que a presidenta deu não significa que ela está propondo transformar o Brasil num alto-falante giratório que vai denunciar todas as violações todo o tempo com igual intensidade.
No dia em que ela me convidou para permanecer nas funções, disse: vamos denunciar isso [apedrejamento de mulheres no Irã], mas vamos denunciar Guantánamo, Abu Ghraib [prisão americana no Iraque em que presos foram torturados].
O Brasil vai se pronunciar sobre esses casos?
Ela [Dilma] mencionou concretamente que tinha ficado contrariada com o voto na Terceira Comissão [da ONU, quando o Brasil se absteve em resolução que condenou violações no Irã]. Vamos ter, e isso é um debate que já existia no Itamaraty, de fazer com que as coisas sejam melhor trabalhadas.
Alguns países, porque têm um critério seletivo, apresentam um prato pronto contra determinados países, não por acaso sempre do Sul do mundo.
A questão é como o Brasil vai lidar com isso.
Uma questão é o próprio procedimento na apresentação dessas moções. Se alguém quer fazer propaganda, politização seletiva, não é um bom caminho.
Podemos pensar em negociar uma resolução que seja equilibrada ou apresentar uma outra.
O tema deve surgir na Aspa (Cúpula América do Sul-Países Árabes), em fevereiro. Tivemos o caso da Tunísia, com manifestantes mortos. O Brasil soltou uma nota branda.
Se você acha que nós vamos transformar as reuniões da Aspa num tribunal dos países árabes, é melhor não realizar as reuniões.
Se fizermos isso, e, depois, na reunião América do Sul-África, fizermos juízo sobre os governos da África, é melhor constituirmos um grande tribunal de opiniões.
No caso da Tunísia, a prudência das notas correspondia à flutuação da situação.
A Turquia sediou nova reunião entre o Irã e as potências. O Brasil se manterá ativo na mediação da questão nuclear iraniana?
A atividade da Turquia, que tem sido discutida e acordada com o Brasil, está se dando pela cessão do território. A Turquia não participa da negociação. Acho até que seria positivo que Turquia e Brasil participassem.
Dilma foi convidada a visitar o Irã. Ela vai?
Ela já foi convidada a x países. Estamos avaliando as viagens de primeiro ano, e está mais concentrado na América do Sul, na China, nos EUA. Ela vai à Bulgária, talvez na ida vá à Turquia.
O que há de novidade na pauta com a Argentina, que Dilma visita no dia 31?
Há uma discussão de acelerarmos a integração produtiva em alguns setores, entre os quais o automotriz, onde nos dois países houve certa desnacionalização da produção de autopeças.
A segunda questão está ligada ao pré-sal. Queremos agregar valor ao petróleo e teremos de desenvolver uma parafernália industrial gigantesca na região. Queremos que a América do Sul seja um polo deste novo mundo multipolar que se forma.
A presidente conversou na posse com o colombiano Juan Manuel Santos sobre o ingresso no Mercosul. Isso se confirma?
Vou à Colômbia em fevereiro. Esse tema está na agenda há tempos. O presidente Santos dá a impressão de querer mudar radicalmente a agenda da Colômbia.
Nos telegramas do WikiLeaks, a embaixada americana fala que o Brasil tem uma "necessidade quase neurótica" de ser reconhecido como igual. Os EUA levam o Brasil a sério como o país gostaria de ser levado?
Não sei se levam e não estou preocupado. Há, em alguns casos, uma enorme distorção na preparação desses informes. Os meus são melhores, entre outras coisas porque despossuídos desse psicologismo vulgar.
O embaixador Thomas Shannon fala em levar adiante uma agenda positiva, por exemplo em biocombustíveis. Como isso caminha?
Parou um pouco, e tem de ser retomado. Mas, quando falo em agenda positiva no sentido de coisas concretas, não quero dizer que vamos esquecer problemas de natureza política.
Temos problemas políticos a discutir, entre eles o relacionamento com a América do Sul.
Por que essa relação tem de estar sempre mediada por ideólogos? Por que a política externa americana tem que ser tão ideológica? A nossa é muito mais realista.
A China é acusada de pretender uma relação neocolonial com África, América Latina...
Uma relação neocolonial só se estabelece se colonizador e colonizado estão de acordo.
Da mesma forma que China e EUA usam instrumentos de política interna que têm incidência sobre a política externa, por exemplo no câmbio, nós podemos fazê-lo. A diferença hoje é que não vem ninguém dizer como é que tem que ser nossa política macroeconômica. Nós decidimos.
FSP 23/11/2011
Brasil não vai ser alto-falante sobre direitos humanos
Assessor de Dilma Rousseff afirma que o tema será definido na prática, sem criar "tribunal de opiniões"
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA A BRASÍLIA
Os responsáveis pela política externa do governo Dilma ainda tateiam para pôr em prática a orientação da presidente de dar prioridade aos direitos humanos sem agir de modo seletivo, revela entrevista à Folha de Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do Planalto.
O Brasil vai "trabalhar melhor as coisas" nesse tema, mas não será um "alto-falante giratório que vai denunciar todas as violações" nem um "tribunal de opiniões" sobre países árabes e africanos.
No Planalto desde 2003, Garcia elevará sua equipe de 5 para 7 pessoas, para ir além do dia a dia e ter uma "sofisticação maior na reflexão".
Como será o estilo Dilma de diplomacia presidencial? Marco Aurélio Garcia - Será, à sua maneira, um estilo muito ativo. Ela tem um interesse muito grande pelos temas internacionais. A Dilma tem uma gigantesca curiosidade intelectual.
Folha - No Haiti, há pressão de EUA e França para que o presidente Préval aceite o relatório da OEA (Organização dos Estados Americanos), que concluiu que o candidato governista deve ficar fora do 2º turno. Qual é a posição brasileira?
França e EUA podem fazer declarações, mas quem está no Haiti somos nós. Nosso embaixador [Igor Kipman] tem conversado com o governo e ponderado a necessidade de chegarmos a uma solução. Essa solução passaria pela aceitação do relatório.
Mas o relatório não pode ser entendido como coisa imposta. O Haiti tem instituições, e a primeira delas é o Conselho Eleitoral. Temos que pensar com base no respeito à soberania nacional.
O Brasil não tem reservas sobre o conteúdo do relatório?
As informações que nós temos são que o relatório é um retrato bastante aproximado [da votação].
Na nota de Dilma em resposta à carta da parlamentar iraniana, foi dito que o governo tratará os direitos humanos de maneira prioritária, mas de forma não seletiva e não discriminatória. Como será na prática?
A prática é que vai nos mostrar. Temos que trabalhar com cuidado.
A ênfase que a presidenta deu não significa que ela está propondo transformar o Brasil num alto-falante giratório que vai denunciar todas as violações todo o tempo com igual intensidade.
No dia em que ela me convidou para permanecer nas funções, disse: vamos denunciar isso [apedrejamento de mulheres no Irã], mas vamos denunciar Guantánamo, Abu Ghraib [prisão americana no Iraque em que presos foram torturados].
O Brasil vai se pronunciar sobre esses casos?
Ela [Dilma] mencionou concretamente que tinha ficado contrariada com o voto na Terceira Comissão [da ONU, quando o Brasil se absteve em resolução que condenou violações no Irã]. Vamos ter, e isso é um debate que já existia no Itamaraty, de fazer com que as coisas sejam melhor trabalhadas.
Alguns países, porque têm um critério seletivo, apresentam um prato pronto contra determinados países, não por acaso sempre do Sul do mundo.
A questão é como o Brasil vai lidar com isso.
Uma questão é o próprio procedimento na apresentação dessas moções. Se alguém quer fazer propaganda, politização seletiva, não é um bom caminho.
Podemos pensar em negociar uma resolução que seja equilibrada ou apresentar uma outra.
O tema deve surgir na Aspa (Cúpula América do Sul-Países Árabes), em fevereiro. Tivemos o caso da Tunísia, com manifestantes mortos. O Brasil soltou uma nota branda.
Se você acha que nós vamos transformar as reuniões da Aspa num tribunal dos países árabes, é melhor não realizar as reuniões.
Se fizermos isso, e, depois, na reunião América do Sul-África, fizermos juízo sobre os governos da África, é melhor constituirmos um grande tribunal de opiniões.
No caso da Tunísia, a prudência das notas correspondia à flutuação da situação.
A Turquia sediou nova reunião entre o Irã e as potências. O Brasil se manterá ativo na mediação da questão nuclear iraniana?
A atividade da Turquia, que tem sido discutida e acordada com o Brasil, está se dando pela cessão do território. A Turquia não participa da negociação. Acho até que seria positivo que Turquia e Brasil participassem.
Dilma foi convidada a visitar o Irã. Ela vai?
Ela já foi convidada a x países. Estamos avaliando as viagens de primeiro ano, e está mais concentrado na América do Sul, na China, nos EUA. Ela vai à Bulgária, talvez na ida vá à Turquia.
O que há de novidade na pauta com a Argentina, que Dilma visita no dia 31?
Há uma discussão de acelerarmos a integração produtiva em alguns setores, entre os quais o automotriz, onde nos dois países houve certa desnacionalização da produção de autopeças.
A segunda questão está ligada ao pré-sal. Queremos agregar valor ao petróleo e teremos de desenvolver uma parafernália industrial gigantesca na região. Queremos que a América do Sul seja um polo deste novo mundo multipolar que se forma.
A presidente conversou na posse com o colombiano Juan Manuel Santos sobre o ingresso no Mercosul. Isso se confirma?
Vou à Colômbia em fevereiro. Esse tema está na agenda há tempos. O presidente Santos dá a impressão de querer mudar radicalmente a agenda da Colômbia.
Nos telegramas do WikiLeaks, a embaixada americana fala que o Brasil tem uma "necessidade quase neurótica" de ser reconhecido como igual. Os EUA levam o Brasil a sério como o país gostaria de ser levado?
Não sei se levam e não estou preocupado. Há, em alguns casos, uma enorme distorção na preparação desses informes. Os meus são melhores, entre outras coisas porque despossuídos desse psicologismo vulgar.
O embaixador Thomas Shannon fala em levar adiante uma agenda positiva, por exemplo em biocombustíveis. Como isso caminha?
Parou um pouco, e tem de ser retomado. Mas, quando falo em agenda positiva no sentido de coisas concretas, não quero dizer que vamos esquecer problemas de natureza política.
Temos problemas políticos a discutir, entre eles o relacionamento com a América do Sul.
Por que essa relação tem de estar sempre mediada por ideólogos? Por que a política externa americana tem que ser tão ideológica? A nossa é muito mais realista.
A China é acusada de pretender uma relação neocolonial com África, América Latina...
Uma relação neocolonial só se estabelece se colonizador e colonizado estão de acordo.
Da mesma forma que China e EUA usam instrumentos de política interna que têm incidência sobre a política externa, por exemplo no câmbio, nós podemos fazê-lo. A diferença hoje é que não vem ninguém dizer como é que tem que ser nossa política macroeconômica. Nós decidimos.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
A luta do câmbio vai ser dura (Alberto Tamer, Estadão, 13/02/2010)
E temos aí uma nova batalha cambial, agora não lá fora, mas no Brasil. A novidade é que, desta vez, o governo não esconde a decisão de conter a valorização do real para evitar maior dano na balança comercial e na conta externa. Vai agir. Antes, dizia que tudo seria resolvido pelas forças do mercado, que o equilíbrio voltaria logo com a manutenção do saudável câmbio flutuante. Ele é bom, sim, vai mantê-lo, mas não está ajudando muito porque nossos parceiros comerciais, Estados Unidos, China, administram a flutuação para baixo, não para cima.
Ben Bernanke diz que não defende um dólar fraco, adota medidas extremas que o enfraquecem. A China, afirma que não pode valorizar o yuan para não quebrar empresas locais. Desculpas para intervir.
Não deu certo. O governo parece convencido de que o aumento do IOF sozinho ajudou, mas não muito. O dólar continua abaixo de R$ 1,7. Vai usar de outros instrumentos de defesa. Acredita no câmbio flutuante, sim, vai mantê-lo ao mesmo tempo em que reage convencido de que é preciso mais. E mais não só agora, afirmam os analistas do mercado, um "mais" quase permanente, que deve durar enquanto forem mantidas as desvalorizações do dólar e do yuan e outras moedas.
As forças do mercado estão sendo enfraquecidas por intervenção direta de grandes participantes do mercado mundial, como Estados Unidos e China, nossos dois principais parceiros comerciais.
O governo decidiu agora seguir o mesmo caminho, como vem afirmando o ministro Guido Mantega. Não esconde mais que o objetivo é a defesa aberta do mercado interno, ameaçado de déficit do qual só escapou em 2010 pelo excelente resultado das exportações de commodities.
Festa de paradoxos. Aqui, o governo se defronta com uma espécie de festival de paradoxos, do crescimento da inflação e do real valorizado, que reduzem a capacidade de administrar o câmbio.
O primeiro, é o paradoxo vem do excepcional crescimento econômico. Ele vem atraindo investimentos em um mercado financeiro internacional ainda instável e com poucas oportunidades seguras e rentáveis como no Brasil. Este é um assunto velho para o leitor da coluna.
Além do afluxo de investimentos financeiros, há a aumento dos preços das commodities, que, admitem o governo e analistas, representam um fator decisivo na cotação do real. O preço sobe lá fora, entram mais dólares e o real se valoriza. O fato irônico e paradoxal é que esses preços são ditados em grande parte pela desvalorização do yuan, sempre atrelado ao dólar. A China, na verdade, dita os preços das commodities, absorvendo a alta com uma moeda fraca.
Triplo sofrimento. Nesse cenário, o Brasil sofre três vezes, ao mesmo tempo. Primeiro, quando o real se valoriza com a entrada de dólares via exportação de commodities. Segundo, quando o yuan, que segue o dólar, também se desvaloriza em relação ao real. E terceiro, quando essa desvalorização do yuan em relação ao real facilita e explica o aumento significativos das exportações chinesas para o Brasil. Isso é mais porque são compostas essencialmente de produtos industriais que estamos deixando de produzir.
É a armadilha do câmbio que o governo enfrenta no momento. Uma espécie de círculo vicioso real-yuan-dólar-real numa sucessão de causa e efeito que pretende quebrar.
E tem inflação, juros. Ah! se fosse "só"isso... Não é. Há a inflação de quase 6%, ameaçando romper a meta. Isso vai exigir uma nova elevação dos juros pelo Banco Central talvez nos próximos dias, o que irá atrair ainda mais investimentos que... bem vocês já sabem, mais dólares no mercado, mais valorização do real. Temos aí a armadilha da inflação e dos juros mais altos para contê-la.
Vai dar? Vai. O BC deve continuar comprando dólares, elevando as reservas cambiais para mais de US$ 300 bilhões. Só no ano passado, foram mais de US$ 40 bilhões. O ruim, é que aumenta o seu custo de financiamento e a divida interna no final da linha - títulos do Tesouro para não transformar os novos dólares em reais e inflação. O bom, é que o país fica protegido contra uma crise cambial ou turbulências externas.
Avaliando bem, a economia brasileira se enfrenta com desafios superáveis mesmo num cenário externo adverso que se prevê para este semestre.
Ben Bernanke diz que não defende um dólar fraco, adota medidas extremas que o enfraquecem. A China, afirma que não pode valorizar o yuan para não quebrar empresas locais. Desculpas para intervir.
Não deu certo. O governo parece convencido de que o aumento do IOF sozinho ajudou, mas não muito. O dólar continua abaixo de R$ 1,7. Vai usar de outros instrumentos de defesa. Acredita no câmbio flutuante, sim, vai mantê-lo ao mesmo tempo em que reage convencido de que é preciso mais. E mais não só agora, afirmam os analistas do mercado, um "mais" quase permanente, que deve durar enquanto forem mantidas as desvalorizações do dólar e do yuan e outras moedas.
As forças do mercado estão sendo enfraquecidas por intervenção direta de grandes participantes do mercado mundial, como Estados Unidos e China, nossos dois principais parceiros comerciais.
O governo decidiu agora seguir o mesmo caminho, como vem afirmando o ministro Guido Mantega. Não esconde mais que o objetivo é a defesa aberta do mercado interno, ameaçado de déficit do qual só escapou em 2010 pelo excelente resultado das exportações de commodities.
Festa de paradoxos. Aqui, o governo se defronta com uma espécie de festival de paradoxos, do crescimento da inflação e do real valorizado, que reduzem a capacidade de administrar o câmbio.
O primeiro, é o paradoxo vem do excepcional crescimento econômico. Ele vem atraindo investimentos em um mercado financeiro internacional ainda instável e com poucas oportunidades seguras e rentáveis como no Brasil. Este é um assunto velho para o leitor da coluna.
Além do afluxo de investimentos financeiros, há a aumento dos preços das commodities, que, admitem o governo e analistas, representam um fator decisivo na cotação do real. O preço sobe lá fora, entram mais dólares e o real se valoriza. O fato irônico e paradoxal é que esses preços são ditados em grande parte pela desvalorização do yuan, sempre atrelado ao dólar. A China, na verdade, dita os preços das commodities, absorvendo a alta com uma moeda fraca.
Triplo sofrimento. Nesse cenário, o Brasil sofre três vezes, ao mesmo tempo. Primeiro, quando o real se valoriza com a entrada de dólares via exportação de commodities. Segundo, quando o yuan, que segue o dólar, também se desvaloriza em relação ao real. E terceiro, quando essa desvalorização do yuan em relação ao real facilita e explica o aumento significativos das exportações chinesas para o Brasil. Isso é mais porque são compostas essencialmente de produtos industriais que estamos deixando de produzir.
É a armadilha do câmbio que o governo enfrenta no momento. Uma espécie de círculo vicioso real-yuan-dólar-real numa sucessão de causa e efeito que pretende quebrar.
E tem inflação, juros. Ah! se fosse "só"isso... Não é. Há a inflação de quase 6%, ameaçando romper a meta. Isso vai exigir uma nova elevação dos juros pelo Banco Central talvez nos próximos dias, o que irá atrair ainda mais investimentos que... bem vocês já sabem, mais dólares no mercado, mais valorização do real. Temos aí a armadilha da inflação e dos juros mais altos para contê-la.
Vai dar? Vai. O BC deve continuar comprando dólares, elevando as reservas cambiais para mais de US$ 300 bilhões. Só no ano passado, foram mais de US$ 40 bilhões. O ruim, é que aumenta o seu custo de financiamento e a divida interna no final da linha - títulos do Tesouro para não transformar os novos dólares em reais e inflação. O bom, é que o país fica protegido contra uma crise cambial ou turbulências externas.
Avaliando bem, a economia brasileira se enfrenta com desafios superáveis mesmo num cenário externo adverso que se prevê para este semestre.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Índia procura ainda o tom certo para lidar com a China ( artigo de Jim Yardley )
JIM YARDLEY / THE INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE - O Estado de S.Paulo
A Índia tem vivido uma temporada de abraços geopolíticos - com uma notável exceção. Um após o outro, os líderes do cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas foram à Índia, acompanhados por delegações de líderes empresariais, em busca de laços mais próximos com esse gigante ascendente do Sul da Ásia. A mídia indiana, aproveitando-se da grande dose de atenção, apelidou o grupo de "P-5".
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi calorosamente recebido em meados do ano. Então, o presidente Obama impressionou o cético establishment indiano durante sua visita em novembro. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, assinou acordos nucleares com o país no início de dezembro, enquanto o presidente russo, Dmitri Medvedev, deixou a Índia no final de 2010 com um punhado de contratos de defesa depois de conquistar para Moscou uma "parceria especial".
A exceção ao clima amistoso foi a visita do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em meados de dezembro. Wen estabeleceu acordos comerciais, anunciou novas metas econômicas e ofereceu garantias das intenções amigáveis da China. Mas a viagem sublinhou também uma piora em muitos pontos de atrito entre as duas gigantes asiáticas - desequilíbrios comerciais, disputas de fronteira e o status da Caxemira. E os principais nomes da política externa indiana, antes receosos em desafiar a China, estão assumindo uma linha mais dura.
"A visita de Wen alargou publicamente o abismo que existe entre Índia e China", disse Ranjit Gupta, diplomata indiano aposentado e um dos mais expressivos analistas que propõem uma posição aguerrida em relação à China.
A Índia deseja fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, e a China é agora o único membro permanente que ainda não apoiou explicitamente tal medida. Mas o motivo de maior inquietação entre os líderes indianos tem sido o que eles consideram provocações chinesas deliberadas na Caxemira conforme o país se aproxima do Paquistão, antigo aliado da China e velho arquirrival da Índia. A China também tem agido para expandir sua influência diplomática e econômica por todo o sul da Ásia, ampliando seu envolvimento nas questões relativas ao Sri Lanka, Nepal e às Maldivas.
A visita de Wen deveria ajudar a amenizar tais tensões num momento em que a Índia começa a se aproximar mais dos Estados Unidos. Entre os líderes chineses, Wen é visto como amigo da Índia, e sua visita ao país em 2005 foi considerada um marco depois que ele e o primeiro-ministro Mammohan Singh chegaram a acordos amplos para solucionar as disputas de fronteira entre os dois gigantes.
Depois de se envolver numa breve guerra de fronteiras, os dois países passaram décadas debatendo uma remarcação territorial, com a China reclamando o estado indiano de Arunachal Pradesh e a Índia reclamando porções do Tibete que fazem fronteira com a Caxemira indiana. O acordo de 2005 levou os mais otimistas a acreditarem que algum tipo de concessão mútua pudesse encerrar a questão. O comércio entre ambos decolou: o aumento foi da ordem de dez vezes, chegando a um volume de quase US$ 60 bilhões. Wen estabeleceu como nova meta o volume de US$ 100 bilhões.
Os líderes indianos se queixam agora de que o comércio é muito mais favorável para a China e dizem que as empresas indianas enfrentam obstáculos demais para entrar no mercado chinês. Wen prometeu ajudar as empresas indianas a vender seus produtos na China, mas os indianos mantêm o ceticismo.
Diplomacia "consultiva". Enquanto isso, a China enfureceu a Índia ao começar a emitir vistos especiais de papel grampeado - em lugar do visto comum - para aqueles na Caxemira indiana que desejem viajar para a China, com base no argumento de que se trata de um território em disputa. A China posteriormente se opôs à inclusão de um dos principais generais indianos responsáveis pela Caxemira numa troca militar com a China. Em resposta, representantes do governo indiano suspenderam, furiosos, todas as trocas militares entre os dois países. Representantes indianos pensaram que Wen poderia reverter a política dos vistos grampeados durante sua visita ao país. Em vez disso, ele só pediu uma diplomacia mais consultiva.
Os comentaristas indianos repararam que os artigos publicados na mídia estatal chinesa renovaram a afirmação chinesa de que a fronteira disputada entre os dois países corresponde a cerca de 2 mil km - enquanto a Índia diz que a distância é de aproximadamente 3,5 mil km. A diferença corresponde aproximadamente à fronteira entre a Caxemira indiana e o Tibete chinês. Ao omitir este trecho, os chineses questionam o status da Caxemira indiana, posição que reforça as ambições do Paquistão, de acordo com numerosos analistas indianos.
A prova mais visível de uma piora em relação a estes problemas estava num comunicado conjunto emitido por ambos os países ao fim da visita de Wen. A China costuma exigir que os demais países apoiem a política de uma só China, segundo a qual Taiwan seria uma parte inalienável do território chinês. Em comunicados anteriores, a Índia concordou com tais termos, mas, desta vez, a menção de apoio foi omitida - um sinal claro da irritação indiana.
"A menção esteve presente em todos os comunicados anteriores, mas os chineses sequer citaram o assunto", disse um funcionário do alto escalão do governo indiano. "Acho que eles sabiam que, se tocassem no tema, nós exigiríamos alguma providência em relação à questão dos vistos e da Caxemira."
Índia e China ainda cooperam na luta contra a mudança climática e nas políticas de comércio internacional, e alguns diplomatas indianos se queixam de que os aspectos positivos do relacionamento são frequentemente ignorados pelas agressivas organizações da mídia enquanto um ousado grupo de analistas estratégicos pressiona pela adoção de uma linha mais dura. Os veículos da mídia estatal chinesa transmitiram recentemente imagens de um novo túnel em construção no Himalaia perto da fronteira com a Índia. Alguns acreditam que tais reportagens são uma forma do país se gabar dos feitos de sua engenharia chinesa. Na Índia, foram apresentadas como alerta para o fato de que a China constrói sua infraestrutura cada vez mais próxima do território indiano.
Ao mesmo tempo, a Índia observa atentamente enquanto a China desenvolve projetos hidrelétricos que podem afetar o curso do Rio Brahmaputra, no território indiano.
Alguns analistas indianos destacam que as tensões com a China aumentaram conforme aumenta a aproximação entre Índia e EUA. Durante sua visita, Obama falou em uma "parceria definidora" entre Índia e EUA e encorajou os indianos a desempenharem um papel mais ativo não apenas no Sul da Ásia como também no Leste Asiático, tradicionalmente considerado quintal da China. Singh, na verdade, acaba de voltar de uma viagem ao Japão, Malásia e Vietnã como parte da política indiana de "Olhar para o Oriente" e reforçar os laços comerciais e diplomáticos com a região.
"Nosso desafio será construir nosso próprio poder de influência", disse o funcionário do alto escalão do governo indiano. "É por isso que o relacionamento com EUA, Japão e outros parceiros do Sudeste Asiático se tornará cada vez mais importante."
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
A Índia tem vivido uma temporada de abraços geopolíticos - com uma notável exceção. Um após o outro, os líderes do cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas foram à Índia, acompanhados por delegações de líderes empresariais, em busca de laços mais próximos com esse gigante ascendente do Sul da Ásia. A mídia indiana, aproveitando-se da grande dose de atenção, apelidou o grupo de "P-5".
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi calorosamente recebido em meados do ano. Então, o presidente Obama impressionou o cético establishment indiano durante sua visita em novembro. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, assinou acordos nucleares com o país no início de dezembro, enquanto o presidente russo, Dmitri Medvedev, deixou a Índia no final de 2010 com um punhado de contratos de defesa depois de conquistar para Moscou uma "parceria especial".
A exceção ao clima amistoso foi a visita do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em meados de dezembro. Wen estabeleceu acordos comerciais, anunciou novas metas econômicas e ofereceu garantias das intenções amigáveis da China. Mas a viagem sublinhou também uma piora em muitos pontos de atrito entre as duas gigantes asiáticas - desequilíbrios comerciais, disputas de fronteira e o status da Caxemira. E os principais nomes da política externa indiana, antes receosos em desafiar a China, estão assumindo uma linha mais dura.
"A visita de Wen alargou publicamente o abismo que existe entre Índia e China", disse Ranjit Gupta, diplomata indiano aposentado e um dos mais expressivos analistas que propõem uma posição aguerrida em relação à China.
A Índia deseja fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, e a China é agora o único membro permanente que ainda não apoiou explicitamente tal medida. Mas o motivo de maior inquietação entre os líderes indianos tem sido o que eles consideram provocações chinesas deliberadas na Caxemira conforme o país se aproxima do Paquistão, antigo aliado da China e velho arquirrival da Índia. A China também tem agido para expandir sua influência diplomática e econômica por todo o sul da Ásia, ampliando seu envolvimento nas questões relativas ao Sri Lanka, Nepal e às Maldivas.
A visita de Wen deveria ajudar a amenizar tais tensões num momento em que a Índia começa a se aproximar mais dos Estados Unidos. Entre os líderes chineses, Wen é visto como amigo da Índia, e sua visita ao país em 2005 foi considerada um marco depois que ele e o primeiro-ministro Mammohan Singh chegaram a acordos amplos para solucionar as disputas de fronteira entre os dois gigantes.
Depois de se envolver numa breve guerra de fronteiras, os dois países passaram décadas debatendo uma remarcação territorial, com a China reclamando o estado indiano de Arunachal Pradesh e a Índia reclamando porções do Tibete que fazem fronteira com a Caxemira indiana. O acordo de 2005 levou os mais otimistas a acreditarem que algum tipo de concessão mútua pudesse encerrar a questão. O comércio entre ambos decolou: o aumento foi da ordem de dez vezes, chegando a um volume de quase US$ 60 bilhões. Wen estabeleceu como nova meta o volume de US$ 100 bilhões.
Os líderes indianos se queixam agora de que o comércio é muito mais favorável para a China e dizem que as empresas indianas enfrentam obstáculos demais para entrar no mercado chinês. Wen prometeu ajudar as empresas indianas a vender seus produtos na China, mas os indianos mantêm o ceticismo.
Diplomacia "consultiva". Enquanto isso, a China enfureceu a Índia ao começar a emitir vistos especiais de papel grampeado - em lugar do visto comum - para aqueles na Caxemira indiana que desejem viajar para a China, com base no argumento de que se trata de um território em disputa. A China posteriormente se opôs à inclusão de um dos principais generais indianos responsáveis pela Caxemira numa troca militar com a China. Em resposta, representantes do governo indiano suspenderam, furiosos, todas as trocas militares entre os dois países. Representantes indianos pensaram que Wen poderia reverter a política dos vistos grampeados durante sua visita ao país. Em vez disso, ele só pediu uma diplomacia mais consultiva.
Os comentaristas indianos repararam que os artigos publicados na mídia estatal chinesa renovaram a afirmação chinesa de que a fronteira disputada entre os dois países corresponde a cerca de 2 mil km - enquanto a Índia diz que a distância é de aproximadamente 3,5 mil km. A diferença corresponde aproximadamente à fronteira entre a Caxemira indiana e o Tibete chinês. Ao omitir este trecho, os chineses questionam o status da Caxemira indiana, posição que reforça as ambições do Paquistão, de acordo com numerosos analistas indianos.
A prova mais visível de uma piora em relação a estes problemas estava num comunicado conjunto emitido por ambos os países ao fim da visita de Wen. A China costuma exigir que os demais países apoiem a política de uma só China, segundo a qual Taiwan seria uma parte inalienável do território chinês. Em comunicados anteriores, a Índia concordou com tais termos, mas, desta vez, a menção de apoio foi omitida - um sinal claro da irritação indiana.
"A menção esteve presente em todos os comunicados anteriores, mas os chineses sequer citaram o assunto", disse um funcionário do alto escalão do governo indiano. "Acho que eles sabiam que, se tocassem no tema, nós exigiríamos alguma providência em relação à questão dos vistos e da Caxemira."
Índia e China ainda cooperam na luta contra a mudança climática e nas políticas de comércio internacional, e alguns diplomatas indianos se queixam de que os aspectos positivos do relacionamento são frequentemente ignorados pelas agressivas organizações da mídia enquanto um ousado grupo de analistas estratégicos pressiona pela adoção de uma linha mais dura. Os veículos da mídia estatal chinesa transmitiram recentemente imagens de um novo túnel em construção no Himalaia perto da fronteira com a Índia. Alguns acreditam que tais reportagens são uma forma do país se gabar dos feitos de sua engenharia chinesa. Na Índia, foram apresentadas como alerta para o fato de que a China constrói sua infraestrutura cada vez mais próxima do território indiano.
Ao mesmo tempo, a Índia observa atentamente enquanto a China desenvolve projetos hidrelétricos que podem afetar o curso do Rio Brahmaputra, no território indiano.
Alguns analistas indianos destacam que as tensões com a China aumentaram conforme aumenta a aproximação entre Índia e EUA. Durante sua visita, Obama falou em uma "parceria definidora" entre Índia e EUA e encorajou os indianos a desempenharem um papel mais ativo não apenas no Sul da Ásia como também no Leste Asiático, tradicionalmente considerado quintal da China. Singh, na verdade, acaba de voltar de uma viagem ao Japão, Malásia e Vietnã como parte da política indiana de "Olhar para o Oriente" e reforçar os laços comerciais e diplomáticos com a região.
"Nosso desafio será construir nosso próprio poder de influência", disse o funcionário do alto escalão do governo indiano. "É por isso que o relacionamento com EUA, Japão e outros parceiros do Sudeste Asiático se tornará cada vez mais importante."
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
domingo, 9 de janeiro de 2011
De acordo com estudo, Brasil será a 7º economia global em 2013
A crise financeira mundial que eclodiu em 2008 nos EUA e espalhou-se rapidamente mundo afora, terá desdobramento no processo de transferência de poder econômico dos países desenvolvidos para países emergentes.
De acordo com um estudo da PricewaterhouseCoopers(PwC), o PIB brasileiro pode ultrapassar França e Inglaterra, já nos próximos dois anos, de acordo com o critério de Paridade de Poder de Compra da população.
Caso continuemos com taxas de crescimento nos próximos anos, por esse critérios o Brasil pode ultrapassar Alemanha e Rússia, vindo a ocupar a quinta posição.
A China em 2018 deverá assumir a liderança mundial, destelhando os EUA dessa posição. Índia deverá passar o Japão em 2011.
De acordo com um estudo da PricewaterhouseCoopers(PwC), o PIB brasileiro pode ultrapassar França e Inglaterra, já nos próximos dois anos, de acordo com o critério de Paridade de Poder de Compra da população.
Caso continuemos com taxas de crescimento nos próximos anos, por esse critérios o Brasil pode ultrapassar Alemanha e Rússia, vindo a ocupar a quinta posição.
A China em 2018 deverá assumir a liderança mundial, destelhando os EUA dessa posição. Índia deverá passar o Japão em 2011.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Plano Nacional de Banda Larga concretiza-se no Orçamento da União
Boa notícia a de o governo vai realmente colocar em prática o PNBL- Plano Nacional de Banda Larga, cujo projeto é conectar 1.173 cidades à grande rede de internet, com custo previsto de R$ 35,00 por pessoa. Para implantar o projeto a Telebrás terá à disposição R$ 589 milhões, já previstos nos créditos extraordinários do Poder Executivo.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
PT Dourados tomou uma decisão ao arrepio da resolução da direção nacional
Sobre qual o procedimento que o PT de Dourados (MS) deveria seguir, de acordo que a decisão da CEN - PT.
Brasília, 20 de dezembro de 2010.
Ao Diretório Municipal de Dourados/MS
Prezados Companheiros(as),
A Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, reunida na data de hoje(20/12/2010), aprovou a seguinte resolução sobre a eleição extraordinária para a prefeitura do município de Dourados, marcada para 6 de fevereiro de 2011:
1) O Diretório Municipal do PT de Dourados/MS deve seguir o calendário apresentado pela SORG Nacional. Não deve ser realizado, portanto, o encontro marcado para terça-feira, 21/12;
2) A CEN considera que a política de alianças do PT, para disputar a eleição em Dourados, não deve incluir o DEM na cabeça de chapa.
Atenciosamente,
Comissão Executiva Nacional
A resolução acima, da Executiva Nacional, não deixa duvida de como deve ser ser conduzido o processo eleitoral extraordiário pela direção municipal de Dourados (MS).
O PT deve seguir o calendário da SORG, portanto não estava autorizado fazer o encontro municipal na data que foi realizado. Mais: não poderia incluir o Dem na aliança política para a disputa da prefeitura.
Portanto, a condução do processo para a escolha da tática eleitoral, deu-se ao arrepio da decisão da direção nacional do PT, fato que pode levar a instância nacional a punir o diretório municipal de Dourados. O que, aliás, na minha opinião, deve ser feito.
Brasília, 20 de dezembro de 2010.
Ao Diretório Municipal de Dourados/MS
Prezados Companheiros(as),
A Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, reunida na data de hoje(20/12/2010), aprovou a seguinte resolução sobre a eleição extraordinária para a prefeitura do município de Dourados, marcada para 6 de fevereiro de 2011:
1) O Diretório Municipal do PT de Dourados/MS deve seguir o calendário apresentado pela SORG Nacional. Não deve ser realizado, portanto, o encontro marcado para terça-feira, 21/12;
2) A CEN considera que a política de alianças do PT, para disputar a eleição em Dourados, não deve incluir o DEM na cabeça de chapa.
Atenciosamente,
Comissão Executiva Nacional
A resolução acima, da Executiva Nacional, não deixa duvida de como deve ser ser conduzido o processo eleitoral extraordiário pela direção municipal de Dourados (MS).
O PT deve seguir o calendário da SORG, portanto não estava autorizado fazer o encontro municipal na data que foi realizado. Mais: não poderia incluir o Dem na aliança política para a disputa da prefeitura.
Portanto, a condução do processo para a escolha da tática eleitoral, deu-se ao arrepio da decisão da direção nacional do PT, fato que pode levar a instância nacional a punir o diretório municipal de Dourados. O que, aliás, na minha opinião, deve ser feito.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
CARTA ABERTA VINDA DA GAZA SITIADA
Carta aberta vinda da Gaza sitiada: Dois anos após o massacre, uma exigência de justiça
Cartoon de Poderiu
Gaza sitiada, Palestina — Nós os palestinos da Faixa Sitiada de Gaza, neste dia, dois anos após o ataque genocida de Israel às nossas famílias, nossas casas, estradas, fábricas e escolas, estamos a dizer: basta de inacção, chega de discussão, chega de esperar – este é o momento para responsabilizar Israel pelos seus crimes permanentes contra nós. Em 27 de Dezembro de 2008, Israel principiou um bombardeamento indiscriminado da Faixa de Gaza. O assalto perdurou durante 22 dias, matando 1417 palestinos, 352 dos quais crianças, segundo importantes Organizações de Direitos Humanos. Durante estarrecedoras 528 horas, as forças de ocupação de Israel lançaram a partir dos seus F15s e F16 fornecidos pelos EUA e dos seus tanques Merkava, munições internacionalmente proibidas de fósforo branco, além de bombardear e invadir o pequeno enclave costeiro palestino que é o lar de 1,5 milhão de pessoas, das quais 800 mil são crianças e mais de 80 por cento refugiados registados pela ONU. Cerca de 5300 estão permanentemente lesionados.
Esta devastação excedeu em selvajaria todos os massacres sofridos anteriormente por Gaza, tais como as 21 crianças mortas em Jabalia em Março de 2008 ou os 19 civis mortos quando abrigados nas suas casas no Massacre de Bei Hanoun de 2006. A carnificina excedeu mesmo os ataques de Novembro de 1956 nos quais tropas israelenses agruparam e mataram 275 palestinos na cidade sulista de Khan Younis e mais 111 em Rafah.
Desde o massacre de Gaza de 2009, cidadãos do mundo tomaram a responsabilidade de pressionar Israel a cumprir com o direito internacional, através de uma estratégia de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Tal como no movimento BDS global que foi tão efectivo para terminar o regime do apartheid sul-africano, instamos as pessoas com consciência a aderirem ao apelo ao BDS feito em 2005 por mais de 170 organizações palestinas. Tal como na África do Sul, o desequilíbrio de poder e representação nesta luta pode ser contra-balançado por um poderoso movimento internacional de solidariedade com o BDS, obrigando decisores políticos israelenses a prestar contas, algo que a comunidade governante internacional tem reiteradamente fracassado em fazer. Analogamente, esforços civis criativos tais como os navios Free Gaza que romperam o sítio cinco vezes, a Marcha pela Libertação de Gaza, a Frota pela Liberdade Gaza e muitos comboios por terra nunca devem cessar a sua ruptura do cerca, destacando a desumanidade de manter 1,5 milhão de habitantes de Gaza numa prisão ao ar livre.
Já se passaram dois anos desde os mais graves actos genocidas de Israel, que deveriam ter desfeito quaisquer dúvidas sobre a dimensão brutal dos planos de Israel para os palestinos. O assalto naval assassino a activistas internacionais a bordo da Frota da Libertação de Gaza, no Mar Mediterrâneo, mostrou ao mundo o pouco valor que Israel atribui desde há muito à vida palestina. O mundo agora sabe, mas dois anos depois nada mudou para os palestinos.
O Relatório Goldstone veio e foi: apesar de listar uma por uma as contravenções do direito internacional, apesar dos "crimes de guerra" israelenses e dos "possíveis crimes contra a humanidade", de a União Europeia, as Nações Unidas, Cruz Vermelha e todas as principais Organizações de Direitos Humanos apelaram a uma finalização do sítio medieval, ele continua sem pausa. Em 11 de Novembro de 2010 o responsável da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos], John Ging, disse: "Não tem havido mudança material para o povo aqui no terreno em termos do seu status, da dependência da ajuda, da ausência de qualquer recuperação ou reconstrução, nenhuma economia... O alívio, como foi descrito, tem sido nada mais do que um alívio político da pressão sobre Israel e o Egipto".
Em 2 de Dezembro, 22 organizações internacionais incluindo a Amnistia, Oxfam, Save the Children, Christian Aid e Medical Aid for Palestinians produziu o relatório "Esperanças frustradas, continuação do bloqueio de Gaza" ("Dashed Hopes, Continuation of the Gaza Blockade") apelando à acção internacional para forçar Israel e levantar incondicionalmente o bloqueio, afirmando que os palestinos de Gaza sob o sítio israelense continuam a viver nas mesmas condições devastadoras. A apenas uma semana o Human Rights Watch publicou um relatório amplo, "Separados e desiguais" ("Separate and Unequal) que denunciou as políticas israelenses como apartheid, reflectindo sentimentos semelhantes de activista anti-apartheid sul-africanos.
Nós palestinos de Gaza queremos viver em liberdade para encontrar amigos ou familiares palestinos de Tulkarem, Jerusalém ou Nazaré, queremos ter o direito de viajar e nos movimentarmos livremente. Queremos viver sem o medo de outra campanha de bombardeamento que deixe centenas dos nossos filhos mortos e muitos mais feridos ou com cancros devidos à contaminação do fósforo branco e da guerra química de Israel. Queremos viver sem as humilhações nos postos de controle israelenses ou a indignidade de não prover as nossas famílias devido ao desemprego provocado pelo controle económico e o sítio ilegal. Estamos a apelar a um fim ao racismo em que se apoia toda esta opressão.
Perguntamos: quando os países do mundo actuarão de acordo com a premissa básica de que os povos deveriam ser tratados igualmente, sem importar a sua origem, etnicidade ou cor – será tão absurdo pretender que uma criança palestina mereça os mesmos direitos humanos tal como qualquer outro ser humanos? Será você capaz de olhar em retrospectiva e dizer que esteve do lado certo da história ou terá alinhado com o opressor?
Nós, portanto, apelamos à comunidade internacional para assumir a sua responsabilidade de proteger o povo palestino da odiosa agressão israelense, terminando imediatamente o sítio com plena compensação pela destruição das nossas vidas e infraestruturas por esta política explícita de punição colectiva. Não há nada que justifique as políticas intencionais de selvajaria, incluindo o corte de acesso ao abastecimento de água e electricidade a 1,5 milhão de pessoas. A conspiração internacional de silêncio quanto à guerra genocida que está a ter lugar contra mais de 1,5 milhão de civis em Gaza indica cumplicidade nestes crimes de guerra.
Também apelamos a todos os grupos de solidariedade com a Palestina e todas as organizações internacionais da sociedade civil a exigirem:
* Fim ao sítio que tem sido imposto ao povo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza em resultado do seu exercício de escolha democrática.
* A protecção de vivas e propriedade civis, como estipulado no Direito Humanitário Internacional e na Lei Internacional dos Direitos Humanos, assim como na Quarta Convenção de Genebra.
* A imediata libertação de todos os prisioneiros políticos.
* Que aos refugiados palestinos na Faixa de Gaza seja imediatamente providenciado apoio financeiro e material para enfrentar as imensas adversidades que estão a experimentar.
* Fim à ocupação, ao apartheid e a outros crimes de guerra.
* Reparações imediatas e compensação por toda a destruição executada pelas forças de ocupação de Israel na Faixa de Gaza.
Boicote, Desinvestimento e Sanção, adira aos muitos sindicatos, universidades, super-mercados, artistas e escritores internacionais que se recusam a ter relações com a Israel do Apartheid. Falar alto e claro pela Palestina, por Gaza e, crucialmente, ACTUAR. O momento é este.
Gasa Sitiada, Palestina
27 de Dezembro de 2010
Lista de signatários:
General Union for Public Services Workers
General Union for Health Services Workers
University Teachers' Association
Palestinian Congregation for Lawyers
General Union for Petrochemical and Gas Workers
General Union for Agricultural Workers
Union of Women's Work Committees
Union of Synergies—Women Unit
The One Democratic State Group
Arab Cultural Forum
Palestinian Students' Campaign for the Academic Boycott of Israel
Association of Al-Quds Bank for Culture and Info
Palestine Sailing Federation
Palestinian Association for Fishing and Maritime
Palestinian Network of Non-Governmental Organizations
Palestinian Women Committees
Progressive Students' Union
Medical Relief Society
The General Society for Rehabilitation
General Union of Palestinian Women
Afaq Jadeeda Cultural Centre for Women and Children
Deir Al-Balah Cultural Centre for Women and Children
Maghazi Cultural Centre for Children
Al-Sahel Centre for Women and Youth
Ghassan Kanfani Kindergartens
Rachel Corrie Centre, Rafah
Rafah Olympia City Sisters
Al Awda Centre, Rafah
Al Awda Hospital, Jabaliya Camp
Ajyal Association, Gaza
General Union of Palestinian Syndicates
Al Karmel Centre, Nuseirat
Local Initiative, Beit Hanoun
Union of Health Work Committees
Red Crescent Society Gaza Strip
Beit Lahiya Cultural Centre
Al Awda Centre, Rafah
( Texto tirado do site www.patrialatina.com.br)
Cartoon de Poderiu
Gaza sitiada, Palestina — Nós os palestinos da Faixa Sitiada de Gaza, neste dia, dois anos após o ataque genocida de Israel às nossas famílias, nossas casas, estradas, fábricas e escolas, estamos a dizer: basta de inacção, chega de discussão, chega de esperar – este é o momento para responsabilizar Israel pelos seus crimes permanentes contra nós. Em 27 de Dezembro de 2008, Israel principiou um bombardeamento indiscriminado da Faixa de Gaza. O assalto perdurou durante 22 dias, matando 1417 palestinos, 352 dos quais crianças, segundo importantes Organizações de Direitos Humanos. Durante estarrecedoras 528 horas, as forças de ocupação de Israel lançaram a partir dos seus F15s e F16 fornecidos pelos EUA e dos seus tanques Merkava, munições internacionalmente proibidas de fósforo branco, além de bombardear e invadir o pequeno enclave costeiro palestino que é o lar de 1,5 milhão de pessoas, das quais 800 mil são crianças e mais de 80 por cento refugiados registados pela ONU. Cerca de 5300 estão permanentemente lesionados.
Esta devastação excedeu em selvajaria todos os massacres sofridos anteriormente por Gaza, tais como as 21 crianças mortas em Jabalia em Março de 2008 ou os 19 civis mortos quando abrigados nas suas casas no Massacre de Bei Hanoun de 2006. A carnificina excedeu mesmo os ataques de Novembro de 1956 nos quais tropas israelenses agruparam e mataram 275 palestinos na cidade sulista de Khan Younis e mais 111 em Rafah.
Desde o massacre de Gaza de 2009, cidadãos do mundo tomaram a responsabilidade de pressionar Israel a cumprir com o direito internacional, através de uma estratégia de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Tal como no movimento BDS global que foi tão efectivo para terminar o regime do apartheid sul-africano, instamos as pessoas com consciência a aderirem ao apelo ao BDS feito em 2005 por mais de 170 organizações palestinas. Tal como na África do Sul, o desequilíbrio de poder e representação nesta luta pode ser contra-balançado por um poderoso movimento internacional de solidariedade com o BDS, obrigando decisores políticos israelenses a prestar contas, algo que a comunidade governante internacional tem reiteradamente fracassado em fazer. Analogamente, esforços civis criativos tais como os navios Free Gaza que romperam o sítio cinco vezes, a Marcha pela Libertação de Gaza, a Frota pela Liberdade Gaza e muitos comboios por terra nunca devem cessar a sua ruptura do cerca, destacando a desumanidade de manter 1,5 milhão de habitantes de Gaza numa prisão ao ar livre.
Já se passaram dois anos desde os mais graves actos genocidas de Israel, que deveriam ter desfeito quaisquer dúvidas sobre a dimensão brutal dos planos de Israel para os palestinos. O assalto naval assassino a activistas internacionais a bordo da Frota da Libertação de Gaza, no Mar Mediterrâneo, mostrou ao mundo o pouco valor que Israel atribui desde há muito à vida palestina. O mundo agora sabe, mas dois anos depois nada mudou para os palestinos.
O Relatório Goldstone veio e foi: apesar de listar uma por uma as contravenções do direito internacional, apesar dos "crimes de guerra" israelenses e dos "possíveis crimes contra a humanidade", de a União Europeia, as Nações Unidas, Cruz Vermelha e todas as principais Organizações de Direitos Humanos apelaram a uma finalização do sítio medieval, ele continua sem pausa. Em 11 de Novembro de 2010 o responsável da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos], John Ging, disse: "Não tem havido mudança material para o povo aqui no terreno em termos do seu status, da dependência da ajuda, da ausência de qualquer recuperação ou reconstrução, nenhuma economia... O alívio, como foi descrito, tem sido nada mais do que um alívio político da pressão sobre Israel e o Egipto".
Em 2 de Dezembro, 22 organizações internacionais incluindo a Amnistia, Oxfam, Save the Children, Christian Aid e Medical Aid for Palestinians produziu o relatório "Esperanças frustradas, continuação do bloqueio de Gaza" ("Dashed Hopes, Continuation of the Gaza Blockade") apelando à acção internacional para forçar Israel e levantar incondicionalmente o bloqueio, afirmando que os palestinos de Gaza sob o sítio israelense continuam a viver nas mesmas condições devastadoras. A apenas uma semana o Human Rights Watch publicou um relatório amplo, "Separados e desiguais" ("Separate and Unequal) que denunciou as políticas israelenses como apartheid, reflectindo sentimentos semelhantes de activista anti-apartheid sul-africanos.
Nós palestinos de Gaza queremos viver em liberdade para encontrar amigos ou familiares palestinos de Tulkarem, Jerusalém ou Nazaré, queremos ter o direito de viajar e nos movimentarmos livremente. Queremos viver sem o medo de outra campanha de bombardeamento que deixe centenas dos nossos filhos mortos e muitos mais feridos ou com cancros devidos à contaminação do fósforo branco e da guerra química de Israel. Queremos viver sem as humilhações nos postos de controle israelenses ou a indignidade de não prover as nossas famílias devido ao desemprego provocado pelo controle económico e o sítio ilegal. Estamos a apelar a um fim ao racismo em que se apoia toda esta opressão.
Perguntamos: quando os países do mundo actuarão de acordo com a premissa básica de que os povos deveriam ser tratados igualmente, sem importar a sua origem, etnicidade ou cor – será tão absurdo pretender que uma criança palestina mereça os mesmos direitos humanos tal como qualquer outro ser humanos? Será você capaz de olhar em retrospectiva e dizer que esteve do lado certo da história ou terá alinhado com o opressor?
Nós, portanto, apelamos à comunidade internacional para assumir a sua responsabilidade de proteger o povo palestino da odiosa agressão israelense, terminando imediatamente o sítio com plena compensação pela destruição das nossas vidas e infraestruturas por esta política explícita de punição colectiva. Não há nada que justifique as políticas intencionais de selvajaria, incluindo o corte de acesso ao abastecimento de água e electricidade a 1,5 milhão de pessoas. A conspiração internacional de silêncio quanto à guerra genocida que está a ter lugar contra mais de 1,5 milhão de civis em Gaza indica cumplicidade nestes crimes de guerra.
Também apelamos a todos os grupos de solidariedade com a Palestina e todas as organizações internacionais da sociedade civil a exigirem:
* Fim ao sítio que tem sido imposto ao povo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza em resultado do seu exercício de escolha democrática.
* A protecção de vivas e propriedade civis, como estipulado no Direito Humanitário Internacional e na Lei Internacional dos Direitos Humanos, assim como na Quarta Convenção de Genebra.
* A imediata libertação de todos os prisioneiros políticos.
* Que aos refugiados palestinos na Faixa de Gaza seja imediatamente providenciado apoio financeiro e material para enfrentar as imensas adversidades que estão a experimentar.
* Fim à ocupação, ao apartheid e a outros crimes de guerra.
* Reparações imediatas e compensação por toda a destruição executada pelas forças de ocupação de Israel na Faixa de Gaza.
Boicote, Desinvestimento e Sanção, adira aos muitos sindicatos, universidades, super-mercados, artistas e escritores internacionais que se recusam a ter relações com a Israel do Apartheid. Falar alto e claro pela Palestina, por Gaza e, crucialmente, ACTUAR. O momento é este.
Gasa Sitiada, Palestina
27 de Dezembro de 2010
Lista de signatários:
General Union for Public Services Workers
General Union for Health Services Workers
University Teachers' Association
Palestinian Congregation for Lawyers
General Union for Petrochemical and Gas Workers
General Union for Agricultural Workers
Union of Women's Work Committees
Union of Synergies—Women Unit
The One Democratic State Group
Arab Cultural Forum
Palestinian Students' Campaign for the Academic Boycott of Israel
Association of Al-Quds Bank for Culture and Info
Palestine Sailing Federation
Palestinian Association for Fishing and Maritime
Palestinian Network of Non-Governmental Organizations
Palestinian Women Committees
Progressive Students' Union
Medical Relief Society
The General Society for Rehabilitation
General Union of Palestinian Women
Afaq Jadeeda Cultural Centre for Women and Children
Deir Al-Balah Cultural Centre for Women and Children
Maghazi Cultural Centre for Children
Al-Sahel Centre for Women and Youth
Ghassan Kanfani Kindergartens
Rachel Corrie Centre, Rafah
Rafah Olympia City Sisters
Al Awda Centre, Rafah
Al Awda Hospital, Jabaliya Camp
Ajyal Association, Gaza
General Union of Palestinian Syndicates
Al Karmel Centre, Nuseirat
Local Initiative, Beit Hanoun
Union of Health Work Committees
Red Crescent Society Gaza Strip
Beit Lahiya Cultural Centre
Al Awda Centre, Rafah
( Texto tirado do site www.patrialatina.com.br)
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Pai pedreiro, filho vendedor, neto doutor ( Estadão, 2/01/2011)
Diploma e emprego formal são principais símbolos da transformação da chamada ''nova classe média'' segundo Marcelo Neri, da FGV
02 de janeiro de 2011 | 0h 00
Naiana Oscar - O Estado de S.Paulo
Os pais são empregados domésticos, pedreiros, cozinheiros. Os filhos, vendedores de lojas, operadores de telemarketing, recepcionistas. O raio X das principais atividades profissionais exercidas nas famílias da classe C dá uma ideia de como a educação tem impactado a vida e a renda da nova classe média brasileira.
De modo geral, essas casas são comandadas por uma geração que exerce trabalhos braçais, com pouca qualificação; os jovens já estão seguindo outro rumo. Um levantamento da consultoria Data Popular indica que 68% deles estudaram mais que seus pais. Nas classes A e B, não passa de 10%.
O baiano Edmundo Nunes, de 57 anos, mudou-se para São Paulo no fim da década de 70 para trabalhar. Quando chegou à cidade, ele conta, só sabia o "abecedário". Fez o ensino fundamental e não quis mais saber de estudar. A trajetória do filho, Erasmo Ramos, de 28 anos, é outra. Ele chegou a iniciar uma faculdade de Educação Física, mas parou no terceiro ano quando a filhinha, Maria Eduarda, nasceu.
Enquanto não consegue voltar à universidade, Erasmo trabalha como vendedor numa loja de móveis. Com o salário dele e da mulher, também vendedora, já conseguiu comprar e reformar um apartamento num conjunto habitacional. Tem carro, computador, dois celulares e duas TVs, uma delas no quarto da filha de dois anos.
"Meu pai me projetou para um trabalho operário. Queria que eu desse um passo a mais que ele, mas eu corri muito à frente", diz o vendedor. "Com dez anos de carteira assinada já tenho um patrimônio maior do que o que ele conseguiu acumular a vida inteira." Para Maria Eduarda, Erasmo projeta uma "maratona". "Ela vai ser doutora."
Não só baseado em números, mas também em histórias como essa, Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, costuma dizer que o símbolo da nova classe média brasileira não é o consumo, e sim o diploma e a carteira de trabalho. "Subir na vida para essas pessoas é ter educação e estar empregado."
A classe C que o País conhece hoje começou a se desenhar nos anos 90, quando o Brasil praticamente completou o acesso de crianças de 7 a 14 anos ao ensino básico. Depois, com a expansão do Financiamento Estudantil e a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni), o ensino superior abriu suas portas para uma parte da população que estava excluída desse nível de escolaridade. Hoje, 44% dos jovens que fazem curso superior pertencem à classe C.
O gasto das famílias da nova classe média com mensalidades e material escolar, em universidades e escolas particulares, movimenta cerca de R$ 15,7 bilhões por ano. Em 2002, não passava de R$ 1,8 bilhão - um crescimento de oito vezes no período. "Esse segmento populacional passou a investir em formação e qualificação profissional para se adequar às demandas de contínua atualização no mercado de trabalho", diz Paulo Carbucci, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "O interessante é que vira um ciclo virtuoso."
A relação entre educação e renda é facilmente constatada nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): numa família em que todos os membros têm no máximo o ensino médio, a renda mensal está em R$ 1.659,99. Quando alguém conquista o diploma de graduação o valor vai para R$ 4.296,05.
"Como estão mais qualificados, é menor o número de jovens que se interessa por trabalhos braçais", diz Cláudio Salvadori Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp. "Por isso, já sofremos com a falta de mão de obra em certos ofícios."
02 de janeiro de 2011 | 0h 00
Naiana Oscar - O Estado de S.Paulo
Os pais são empregados domésticos, pedreiros, cozinheiros. Os filhos, vendedores de lojas, operadores de telemarketing, recepcionistas. O raio X das principais atividades profissionais exercidas nas famílias da classe C dá uma ideia de como a educação tem impactado a vida e a renda da nova classe média brasileira.
De modo geral, essas casas são comandadas por uma geração que exerce trabalhos braçais, com pouca qualificação; os jovens já estão seguindo outro rumo. Um levantamento da consultoria Data Popular indica que 68% deles estudaram mais que seus pais. Nas classes A e B, não passa de 10%.
O baiano Edmundo Nunes, de 57 anos, mudou-se para São Paulo no fim da década de 70 para trabalhar. Quando chegou à cidade, ele conta, só sabia o "abecedário". Fez o ensino fundamental e não quis mais saber de estudar. A trajetória do filho, Erasmo Ramos, de 28 anos, é outra. Ele chegou a iniciar uma faculdade de Educação Física, mas parou no terceiro ano quando a filhinha, Maria Eduarda, nasceu.
Enquanto não consegue voltar à universidade, Erasmo trabalha como vendedor numa loja de móveis. Com o salário dele e da mulher, também vendedora, já conseguiu comprar e reformar um apartamento num conjunto habitacional. Tem carro, computador, dois celulares e duas TVs, uma delas no quarto da filha de dois anos.
"Meu pai me projetou para um trabalho operário. Queria que eu desse um passo a mais que ele, mas eu corri muito à frente", diz o vendedor. "Com dez anos de carteira assinada já tenho um patrimônio maior do que o que ele conseguiu acumular a vida inteira." Para Maria Eduarda, Erasmo projeta uma "maratona". "Ela vai ser doutora."
Não só baseado em números, mas também em histórias como essa, Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, costuma dizer que o símbolo da nova classe média brasileira não é o consumo, e sim o diploma e a carteira de trabalho. "Subir na vida para essas pessoas é ter educação e estar empregado."
A classe C que o País conhece hoje começou a se desenhar nos anos 90, quando o Brasil praticamente completou o acesso de crianças de 7 a 14 anos ao ensino básico. Depois, com a expansão do Financiamento Estudantil e a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni), o ensino superior abriu suas portas para uma parte da população que estava excluída desse nível de escolaridade. Hoje, 44% dos jovens que fazem curso superior pertencem à classe C.
O gasto das famílias da nova classe média com mensalidades e material escolar, em universidades e escolas particulares, movimenta cerca de R$ 15,7 bilhões por ano. Em 2002, não passava de R$ 1,8 bilhão - um crescimento de oito vezes no período. "Esse segmento populacional passou a investir em formação e qualificação profissional para se adequar às demandas de contínua atualização no mercado de trabalho", diz Paulo Carbucci, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "O interessante é que vira um ciclo virtuoso."
A relação entre educação e renda é facilmente constatada nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): numa família em que todos os membros têm no máximo o ensino médio, a renda mensal está em R$ 1.659,99. Quando alguém conquista o diploma de graduação o valor vai para R$ 4.296,05.
"Como estão mais qualificados, é menor o número de jovens que se interessa por trabalhos braçais", diz Cláudio Salvadori Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp. "Por isso, já sofremos com a falta de mão de obra em certos ofícios."
domingo, 2 de janeiro de 2011
Valeu a pena lutar!
Mesmo tendo convide para ir à posse no Planalto e depois no coquetel no Itamaraty, resolvi andar pela Praça dos Três Poderes. Vi de perto a alegria e o orgulho da militância petista. Gente de todo o Brasil, de vários partidos da base de sustentação do governo, mas em sua grande maioria, de petistas orgulhos de pertencer ao maior partido de esquerda do Brasil e da America Latina. A emoção era grande demais. Um aperto no coração por saber que Lula logo mais deixaria Brasília. Lula significa muito pra nós do PT e a agora significa muito para o povo brasileiro. Mas também uma imensa alegria por saber que Dilma vai continuar e aprofundar as conquistas democráticas e populares do governo Lula. Olhei para Joelma, minha companheira, e a vi chorando. Também não me contive e chorei de emoção ao assistir a Dilma e Lula na Rampa do Planalto. Uma cena histórica e inesquecível. Nós que construímos o PT durante esses trinta anos, assistir a uma troca de poder de um líder popular de esquerda para uma mulher igualmente de esquerda é realmente uma conquista histórica. Valeu a pena lutar!! Viva o PT!!!!!!
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