terça-feira, 17 de julho de 2012

O juro contra o derrotismo

Por Antonio Delfim Netto
As políticas macroprudenciais foram adotadas pelo mundo afora quando, desiludidos pelos erros que cometeram, supondo os "mercados perfeitos e honestos", os bancos centrais redescobriram que sua tarefa principal é garantir a estabilidade do sistema financeiro e, complementarmente, controlar a taxa de inflação.
E mais. Redescobriram:
1) que uma taxa de inflação baixa e estável está longe de ser condição suficiente para garantir a estabilidade do sistema financeiro; e 2) que este, quando desregulado, tem propensão a autodestruir-se. Basta ver os dois mais recentes escândalos: o previsível do J.P. Morgan e o quase inacreditável do Barclays, poderosos dissolventes da confiança do público sem a qual nada funciona. O "affair" Libor logo atravessará o Atlântico...
Baixar a taxa real ao nível internacional é fundamental
Se, por um lado, não há desenvolvimento sem inovação e sem banqueiro que corra o risco de financiá-la, de outro, a desabrida tomada de risco os leva a destruir o que ajudaram a criar. Para seu próprio benefício (e da sociedade), é evidente a necessidade de uma regulação que não lhes impeça de fazer o seu papel com eficiência, mas, ao mesmo tempo, controle cuidadosamente a sua infinita imaginação para inventar instrumentos de destruição em massa (como foram alguns derivativos).
Quatro anos depois da crise iniciada com a falência da Lehman Brothers, em setembro de 2008, que paralisou a economia americana e colocou luz nas patifarias feitas por alguns países da eurolândia com a conivência do sistema financeiro, a experiência e a teorização que a seguiram sugerem que a intuição original estava certa: taxa de juros e medidas macro e microprudenciais podem ser, numa certa medida e em determinadas situações, complementos para atingir o duplo objetivo de estabilizar o sistema financeiro e produzir uma baixa taxa de inflação (talvez igual à dos parceiros internacionais), sem o que o crescimento pode ser comprometido.
A experiência mostrou que a ideia de uma substituição do papel da taxa de juros por medidas macro e microprudenciais é equivocada. No longo prazo, as manobras na taxa de juros têm um espectro de influência sobre o sistema econômico que transcende ao seu papel de estabilizar a taxa de inflação.
Procurar baixar a taxa de juros real no Brasil ao nível internacional é fundamental sob múltiplos aspectos, todos favoráveis à aceleração do desenvolvimento econômico: 1) o valor dos ativos (os imóveis) das famílias tende a crescer, aumentando a sua capacidade de endividamento e estimulando o seu consumo; 2) tende a aumentar o valor dos ativos financeiros, nas bolsas de valores (o que aumenta também o patrimônio das famílias e o consumo) e o valor das empresas. Quando esse ultrapassa o seu custo de reposição, tende a aumentar os investimentos (efeito Tobin), acelerando duplamente a demanda global. E vice-versa: se o valor cai abaixo dele não há investimento. A queda do valor dos bancos, por sua vez, reduz diretamente a capacidade de financiamento da economia, prejudicando o crescimento. O sistema de economia de mercado é insitamente instável, porque a resposta da oferta é defasada da demanda, e porque os agentes são também ciclotímicos. Estão sempre ou num estado de euforia, ou em pessimismo, sobre o qual o valor dos ativos nas bolsas parece, também, exercer papel importante; 3) melhora a qualidade e a quantidade dos empréstimos bancários e os estimula, porque aumenta os lucros das empresas e diminui o risco de inadimplência; 4) reduz o custo do financiamento da dívida pública e libera recursos para o aumento do investimento público; e 5) dá à taxa de câmbio o seu papel de preço relativo, que equilibra o fluxo de valor das exportações ao das importações, mantendo uma taxa de câmbio real saudável, que estimula o crescimento. O contrário ocorre quando há absoluta liberdade de movimento de capitais e a taxa de juro real interna é permanentemente superior à externa, situação na qual a taxa de câmbio transforma-se num ativo financeiro sujeito a toda sorte de especulação.
Tem razão, portanto, o Banco Central quando coloca alta prioridade na redução da taxa de juro real, aproveitando a "janela" que se abriu diante das fantásticas dificuldades que atacam o sistema financeiro internacional e, por consequência, o produtivo. Vamos crescer pouco em 2012 Talvez nada muito diferente do que 2%, mas os efeitos das medidas já tomadas sugerem que deveremos estar rodando a 4%-4,5% no fim de 2012 com relação ao fim de 2011.
É hora de perseverar no bom controle fiscal e encontrar um mecanismo suave que, sem comprometer o equilíbrio nos próximos 12 meses, seja capaz de ampliar, com a cooperação dos Estados, o prazo de pagamento dos impostos que hoje são recolhidos, em média, sete semanas antes do produtor receber a fatura! Esse aumento líquido de caixa (principalmente nas pequenas e médias empresas) - sem a interferência de BNDES e de bancos- acelerá os efeitos das medidas já tomadas e reduzirá o pessimismo do nosso setor industrial. Uma condição necessária para a recuperação é resistir ao conluio sindicalista que se arma na Câmara para destruir o equilíbrio fiscal com a ampliação dos gastos de custeio dos três níveis do governo.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Hollande é esperança para os franceses

Fraçois Hollande é o oitavo presidente eleito na zona do euro em pouco mais de um ano. Derrotou Sarkozy, de centro-direita, que sucumbiu em meio a uma grave crise que assola a França e todo o continente europeu. Vitória apertada, com 51,7% dos votos. Mas sinaliza claramente que os ventos mudaram. Não é para menos. A França está mergulhada no desemprego, que atinge a todos, mas em especial a população jovem. O sistema financeiro e o estado quebraram, não tem condições de alavancarem a economia, pois o governo aplica o receituário da política econômica conservadora. Hollande terá um grande desafio pela frente. Pode curvar-se aos encantos neoliberais do antecessor. Mas pode seguir pelo caminho já adotado por países emergentes, como Brasil, de incentivar a economia a partir de uma política de investimento público, para crescer via o mercado interno. A Alemanha dá sinais de que vai seguir esse caminho, já que se esgotou a política de exportações. O Brasil, ao lado dos parceiros emergentes, quem diria, é exemplo para o mundo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Dez anos do colapso
Por Daniel Rittner

Dez anos depois do colapso, duas histórias de empreendedorismo mostram como a Argentina, graças ao empenho de sua gente e apesar da fragilidade institucional do país, mudou desde a tarde nublada em que um helicóptero encostou no teto da Casa Rosada para resgatar o então presidente Fernando de la Rúa. O piloto sequer pôde pousar no heliponto do palácio presidencial, tamanha a convulsão social na Praça de Maio e o risco à integridade física do passageiro ilustre, que havia acabado de assinar sua renúncia. Era 20 de dezembro de 2001, e Sergio Kompel se lembra perfeitamente daquele dia, não só pelos 38 mortos, pelas milhares de donas de casa que empunhavam "cacerolas" como armas contra o governo, pelos 5 mil pontos de risco-país e pelo índice de pobreza recorde de 54% da população.

Era justamente a data de inauguração do lava-autos de Sergio Kompel, no estacionamento de um shopping center no charmoso bairro da Recoleta, e dava para contar os clientes com os dedos de uma mão. Não podia haver um dia pior. "Ainda por cima, chuviscava", recorda-se. Contra todos os prognósticos dos amigos, Kompel e seu sócio, que apontavam o mau momento para uma empreitada assim, perseveraram no negócio. Investiram em inovação, criando um sistema ecologicamente correto de lavagem de carros, que usa apenas cinco litros de água por vez e não deixa resíduos químicos. Hoje parece banal, mas era novidade dez anos atrás, principalmente fora dos Estados Unidos ou da Europa. Eles redirecionaram suas apostas e passaram a frequentar feiras internacionais de franquias. Enquanto abriam suas primeiras lojas em Buenos Aires, expandiam-se no exterior.

Duas empresas simbolizam o renascer da Argentina

Hoje a ProntoWash tem 400 unidades e fatura US$ 50 milhões por ano, dos quais apenas 20% vêm da própria Argentina. São 50 lojas nos Estados Unidos, 40 no Brasil (especialmente na região Sul) e franquias no Kuwait, em Moçambique, na Moldávia e no Cazaquistão. "Os lava-autos sempre foram um segmento muito informal e havia a oportunidade de construir algo mais profissionalizado. Para a maioria das pessoas, lavar o carro é uma perda de tempo. Para as mulheres, é um ambiente machista. Decidimos nos transformar numa espécie de McDonald's dos lava-autos", ensina Kompel.

Naqueles mesmos dias de dezembro, Inés Berton via pela CNN e pela BBC as cenas de caos em Buenos Aires, com a sensação de que já era hora de deixar para trás os sete anos em Nova York. Casualmente, ouviu Caetano Veloso cantando "Vuelo al Sur" e decidiu que era hora de voltar para estar perto de sua gente. Desembarcou no aeroporto de Ezeiza com US$ 132 no bolso, enquanto muitos amigos seus faziam o caminho inverso e emigravam da Argentina para os países ricos. Anos antes, quando havia investigado os motivos de suas enxaquecas constantes, Inés descobriu que tinha olfato hipersensível. No Guggenheim do Soho, onde trabalhava, tirou proveito disso: ia com frequência à T Emporium, sala de chás instalada na parte de baixo do museu, onde pedia combinações com ingredientes que ela mesma escolhia. Os outros clientes eram atraídos por suas invenções e os donos se deram conta de que vendiam mais quando ela estava por perto. Passou, então, a trabalhar lá até voltar.

Em plena crise econômica, Inés alugou por US$ 200 um espaço na galeria do hotel Alvear, provavelmente o mais chique de Buenos Aires. Abriu a Tealosophy, divulgando-a entre a clientela para a qual já vendia seus chás, incluindo a Petrobras e a família Moreira Salles. Suas misturas encantaram o Dalai Lama, Sofia Copolla e os reis da Espanha. Inés rodou o mundo em busca de aromas autênticos. Achou inigualáveis a camomila do Egito, a baunilha de Madagáscar, as clementinas da Itália e a verbena do sul da França. Com ingredientes como esses, hoje ela exporta a 20 países, tem uma loja de 150 m2 em Barcelona e seus chás são servidos na Harrods, em Londres, e nos restaurantes de Carla Pernambuco e Alex Atala, em São Paulo. "E nunca gastamos um centavo com publicidade", diz.

Filhas do colapso de 2001, a ProntoWash e a Tealosophy são microrretratos de um país que buscou a redenção. Nos últimos oito anos, o crescimento médio do PIB chega a 8%, a taxa de investimento supera a brasileira (tem ficado em torno de 23% do PIB) e os resultados em conta corrente são permanentemente melhores do que os nossos. A pobreza baixou a menos de 20% da população, segundo institutos independentes, e a menos de 10%, segundo o governo. A inflação deve ficar em dois dígitos pelo sétimo ano seguido, e é o principal dado negativo da economia argentina hoje, mas a oposição errou ao concentrar seu discurso na alta de preços para conquistar votos nas eleições presidenciais de outubro. Pelo simples fato de que 40% dos eleitores - argentinos de até 40 anos - entraram no mercado de trabalho depois de 1991, quando a hiperinflação deixou de ser um problema. É gente que não tem a maquininha de remarcar preços na memória, mas sabe bem o que é recessão e coloca o desemprego no topo de seus medos. Tolera, portanto, inflação anual de 25% - desde que tenha trabalho e reajustes salariais na mesma proporção.

O "modelo K", política econômica do kirchnerismo que ajudou a tirar a Argentina do calvário, já não é o mesmo. O superávit primário, que atingiu 5% em 2003, hoje só existe graças a manobras contábeis, como o lucro da Anses (o INSS argentino) após a estatização dos fundos de pensão privados. O ano de 2011, além de ter sido o primeiro desde o colapso com queda das reservas internacionais, pode ter fechado com déficit em conta corrente. O câmbio, fundamental para a recuperação da indústria, não é competitivo como antes, e a sensação de que o peso está barato só ilude os brasileiros com reais no bolso.

A Argentina está longe de ser exemplo para seus vizinhos, mas uma análise ampla sobre o país deve concentrar-se, hoje, mais na sua precariedade institucional, nos arroubos de autocracia de Cristina Kirchner, na duvidosa independência de uma parcela do Judiciário, na dificuldade em credenciar-se como um interlocutor maduro na arena internacional. E menos na percepção de que é um país em crise econômica, ou à beira de estar.

Daniel Rittner é repórter em Brasília.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A Líbia, a OTAN e o Grande Médio Oriente

31/08/2011 0
A Líbia, a Otan e o Grande Médio Oriente
Por José Luís Fiori
"Se aqui e no exterior todos perceberem que estamos prontos para a guerra a qualquer momento, com todas as unidades das nossas forças na linha de frente prontas para entrar em combate e ferir o inimigo no ventre, pisoteando-o quando estiver no chão, para ferver seus prisioneiros em azeite e torturar suas mulheres e filhos, então ninguém se atreverá no nosso caminho". John Arbuthnot Fisher, primeiro Lord do Almirantado da Marinha Real Britânica, (cit. in Norman Angell, A Grande Ilusão, Editora UNB, 2002, p: 275)

É preciso ser muito ingênuo ou mal informado para seguir pensando que a "Guerra da Líbia", foi feita em nome dos "direitos humanos" e da "democracia". E ainda por cima acreditar que o governo de Muamar Gadafi foi derrotado pelos "rebeldes" que aparecem nos jornais em poses publicitárias. Tudo isso enquanto a aviação inglesa comanda o ataque final das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) à cidade de Sirta, depois de ter conquistado a cidade de Trípoli. Até o momento, a "primavera árabe" não produziu nenhuma mudança de regime na região, mesmo na Tunísia e no Egito, e não há nenhuma garantia de que os novos governos sejam mais democráticos, liberais ou humanitários que seus antecessores. Até porque, quase todos os seus líderes ocuparam posições de destaque nos governos que ajudaram a derrubar, com o apoio de uma multidão heterogênea e desorganizada. Sendo que, no caso da Líbia, não se pode nem mesmo falar de algo parecido a uma "mobilização massiva e democrática" da oposição, porque se trata de fato de uma guerra selvagem e sem quartel, entre regiões e tribos inimigas, que foram mobilizadas e "pacificadas" transitoriamente, pelas forças militares da Otan.

Na Líbia haverá um período de caos, seguido da formação de um governo de coalizão tribal e instável

Segundo Lord Ismay, que foi o primeiro secretário-geral da Otan, o objetivo da aliança militar criada pelo Tratado do Atlântico Norte, assinado em 1949, era "manter os russos fora, os americanos dentro e os alemães para baixo". E esse objetivo foi cumprido plenamente, durante todo o período da Guerra Fria. Mas depois de 1991, a Otan passou por um período de "crise de identidade" e redefinição do seu papel dentro do sistema internacional. Num primeiro momento, a organização militar se voltou para o Leste e para a ocupação/incorporação de alguns países da Europa Central que haviam pertencido ao Pacto de Varsóvia.

Além disso decidiu participar diretamente das Guerras do Kosovo e da Sérvia. E ao mesmo tampo, lançou, em 1994, um projeto de intercâmbio militar e de segurança, com os países árabes do norte da África, o chamado "Diálogo Mediterrâneo". Dez anos depois, na sua reunião de cúpula de 2004, em Istambul, os dirigentes da Otan decidiram expandir o seu projeto de segurança e criaram a "Iniciativa de Cooperação de Istambul" (ICI), voltada para os países do Oriente Médio. Além disso, nesse mesmo período, a Otan, que não havia apoiado as guerras do Afeganistão e do Iraque, decidiu aderir e colocar-se ao lado das tropas anglo-americanas, instalando suas forças também na Ásia Central.

Foram os ingleses que cunharam o termo "Oriente Médio", para referir-se aos territórios situados no meio do seu caminho, entre a Inglaterra e a Índia, e que pertenciam ou estavam sob a tutela do Império Otomano. Incluindo os territórios que foram retalhados e divididos depois do fim da 1ª Guerra Mundial, sendo transformados em "protetorados" da Inglaterra e da França, que já eram, naquele momento, as duas maiores potências imperiais da Europa, tendo submetido e colonizado a maior parte da África Subsaariana e todos os países árabes do norte do continente, hoje incluídos no "Diálogo Mediterrâneo" da Otan.

Mas foi o presidente dos Estados Unidos, George Bush, quem cunhou o termo "Grande Médio Oriente", apresentado pela primeira vez na reunião do G-8, realizada em Sea Islands, nos Estados Unidos, em junho de 2004. A ideia era definir e unificar um novo espaço de intervenção geopolítica, que iria do Marrocos até o Paquistão, e deveria ser objeto da preocupação prioritária das grandes potências, na sua guerra contra o "terrorismo islâmico", e a favor da "democracia" e dos "direitos humanos". Dessa perspectiva se pode compreender melhor o significado geo-estratégico da "primavera árabe", e da Guerra da Líbia.

Assim mesmo, o que se deve esperar que ocorra depois da guerra? Na Líbia, haverá um longo período de caos, seguido da formação de um governo de coalizão tribal, instável e autoritário, sob o patrocínio e a tutela militar da Otan. Ao mesmo tempo, terá sido dado um passo decisivo na construção de uma força de intervenção "ocidental", capaz de projetar seu poder militar sobre todo o território islâmico do Grande Médio Oriente. E de passagem, estará criado o primeiro "protetorado colonial" da Otan na África. Triste sina da África!

José Luís Fiori é professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, e autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, 2007. Escreve mensalmente às quartas-feiras.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Artigo de Carlos Lessa sobre o economista Argentina Raúl Prebisch

Raúl Prebisch, a ascensão da China e o Terceiro Mundo
Carlos Lessa | Para o Valor, do Rio
29/07/2011



A coruja do conhecimento, geralmente, levanta voo ao entardecer. As grandes passagens da economia mundial produzem revoadas de corujas. Destas, muitas fazem a releitura de antigos pensadores deixados, provisoriamente, de lado. Essa releitura auxiliará a construção de novas interpretações. Hegel falava da fácil sabedoria da visão retrospectiva, ou seja, como o curso histórico tem suas razões, a releitura permite explicitar algumas delas. Entretanto, a criação intelectual que ilumina o amanhã exige o que Nietzsche denominava "espírito de águia", que não teme se debruçar sobre o abismo.
Li "Raúl Prebisch (1901-1986): A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo", de Edgar Dosman, editado pela Contraponto em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado. Uma biografia exaustiva e rigorosa, do ponto de vista documental, do economista argentino que escreveu o livro "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas", conhecido como "Manifesto Latino-Americano", divulgado em Havana em 1949. Nele, Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e se aprofundava secularmente, pois a dinâmica dos ciclos de comércio exterior favorecia, a longo prazo, as economias já industrializadas e dominantes.

Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e só se aprofundava

O alicerce ortodoxo da economia política clássica inglesa foi a teoria ricardiana de comércio exterior. Seu teorema dos custos comparativos "justificava" como maximizante para todos os integrantes do comércio internacional a especialização nos bens que produzia com maior eficiência. Se cada país se especializasse e obtivesse, pelo comércio internacional, aquilo que tinha menor produtividade interna, haveria o máximo bem-estar das economias interligadas. David Ricardo construiu o argumento perfeito para a hegemonia inglesa, nação que sediou a Primeira Revolução Industrial. Investir, intelectual e politicamente, contra a ortodoxia do país dominante foi a prática dos pais fundadores dos Estados Unidos. Alexander Hamilton defendeu a ideia da industrialização como essencial ao padrão de vida e à soberania nacional das 13 ex-colônias. Friedrich List, em 1841, publica "O Sistema Nacional de Economia Política", que se sucedeu à Zollverein, união aduaneira alemã, de 1834. List explicita que o projeto nacional de desenvolvimento via industrialização é uma exceção ao livre-câmbio e livre-comércio. A Revolução Meiji realiza uma modernização à força no Japão, sob o argumento de que sacrifícios no presente produziriam felicidade no futuro. A França, de Napoleão III, também critica Ricardo e defende a prioridade da industrialização nacional. O denominador histórico comum de todas essas experiências de industrialização consiste na adesão ao livre-câmbio e livre- comércio, tão logo esteja consolidada sua maturidade industrial. Foram poucas as nações que se industrializaram e nenhuma nação latino-americana, no século XIX e década iniciais do século XX.

Uma retórica geopolítica pretendendo superar o atraso pela boa convivência de nações foi recorrente. Por exemplo, o brasileiro Rui Barbosa, que conhecia a heterodoxa visão de finanças industrializantes dos fundadores americanos, defendeu o "desenvolvimento" da periferia na famosa e inútil 2ª Conferência de Haia, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial e no umbral da Grande Crise de 1929, Mihail Manoïlesco, ministro da Indústria e Comércio da Romênia, defendeu, em "Teoria do Protecionismo e da Permuta Internacional", a industrialização como único caminho para a superação do atraso. Essa defesa explicitou o argumento-chave de indústria nascente e das relações interindustriais de um sistema industrial nacional. O brasileiro Roberto Simonsen, presidente do Centro das Indústrias de São Paulo, traduziu e publicou, em 1931, o trabalho do economista romeno. A ideia da industrialização como projeto nacional impregnou a gestão Getúlio Vargas durante os anos 30 e a Segunda Guerra Mundial. O ideal de produzir as máquinas que fazem máquinas apareceu no discurso do obelisco, precedendo o governo Vargas, que realizou uma política keynesiana antes da publicação do clássico livro de Keynes.

Ouso dizer que a obra de Prebisch, menos pelo pioneirismo e mais pela oportunidade, decisão, habilidade e poder mobilizador, foi um voo de coruja decisivo para o esforço latino-americano de superação do atraso. O conceito de América Latina foi consolidado e tornado, em alto nível de abstração, homogêneo pela crítica atualizada e politizada da ortodoxia das economias dominantes. Prebisch, com visão política historicamente correta, evitou refletir sobre as estruturas internas dos países latino-americanos. Apesar do trabalho intelectual de economistas latino-americanos como Aníbal Pinto Santa Cruz e Celso Furtado, que mergulharam na heterogeneidade e na formação histórica singular de cada país latino-americano, o sonho bolivariano da integração recebeu um forte estímulo a partir do Manifesto, de Prebisch, e do trabalho dos estruturalistas da Cepal.

Em tempos de crise, a coruja voa revitalizando o passado, porém o fato mais relevante do momento atual é o desenvolvimento da China e não pode ser atribuído a nenhuma receita ortodoxa de livre-comércio e livre-câmbio. Não é uma economia de mercado. Regula - de perto e com instrumentos estatais variados, discriminatórios e poderosos - finanças, câmbio e atuação empresarial. O maior sucesso nacional do momento é, em si, questionador frontal da ortodoxia neoliberal.

Prebisch, hoje, teria se debruçado sobre a experiência chinesa e chamaria a atenção para a geopolítica dominante que a China vem fazendo no chamado Terceiro Mundo.

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Entrevista do economista Barry Eichengreen sobre a crise na zona do euro.

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Entrevista: A Europa precisa da Grécia de alguma forma recuperada, seja qual for o preço a pagar para todos saírem da crise, diz Barry Eichengreen.
Nas mãos de Atenas
Alex Ribeiro | De Washington
22/07/2011


Eichengreen: "Foi um erro criar uma união monetária incluindo esses países mais fracos (com) um só banco central, sem criar fundos de socorro e mecanismos de disciplina fiscal"
Cada país infeliz da Zona do Euro é infeliz à sua própria maneira, por excesso de dívida pública, privada ou bancária, ou por falta de crescimento econômico. Mas todos devem se manter juntos na união monetária, porque abandoná-la traria consequências devastadoras

Em entrevista ao Valor, um dos mais respeitados estudiosos dos sistemas monetários internacionais, o economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórina, em Berkeley, usa a primeira frase do romance "Anna Karenina", do escritor russo Leon Tolstoi, para explicar as mazelas econômicas que levaram a Europa à crise atual. "Cada família infeliz é infeliz do seu próprio jeito", afirma Eichengreen. "Cada país europeu é infeliz à sua maneira."

Agora que a Europa caminha para reestruturar a dívida pública da Grécia, muitos duvidam que o país permanecerá na Zona do Euro. Custos e salários estão muito altos, e a saída natural seria uma desvalorização cambial para recuperar a competitividade das exportações.

Outra alternativa é deflacionar custos e salários, mas esse processo é lento e doloroso. A economia grega caiu 7,5% desde o pico de seu PIB, em 2008, o desemprego supera 16%, mas a taxa real de câmbio do país se desvalorizou apenas 6% nos últimos 12 meses. Alguns economistas estimam que o ajuste cambial terá que ser quatro ou cinco vezes maior que isso.

A eventual notícia de que o governo grego estaria cogitando a volta ao dracma provocaria "a maior e mais violenta crise que o mundo já viu"

Eichengreen diz que, apesar de todo o esforço que o ajuste exigirá, a Grécia permanecerá integrada ao euro, porque a alternativa de deixá-lo é simplesmente assustadora, com inevitável caos econômico, financeiro e político. Em qualquer hipótese, o país terá que receber ajuda da Europa para sair do nó cambial. "Os 50 anos de história da Europa dizem que, sempre que eles estão diante da escolha de ir adiante ou recuar, eles vão adiante e aprofundam a integração", observa Eichengreen.

Valor: O que levou a Europa à situação atual?

Barry Eichengreen: Como diz a primeira frase do livro "Anna Karenina", cada família infeliz é infeliz do seu próprio jeito. Cada país europeu é infeliz à sua maneira. Na Grécia, é a dívida pública; em Portugal, a dívida privada; na Irlanda, a dívida bancária; na Espanha, a combinação disso tudo; na Itália, a incapacidade de a economia crescer. Mas a crise foi agravada pela incapacidade das autoridades europeias em conter sérios problemas na Grécia. Isso permitiu que se alastrassem dúvidas sobre outros países.

Valor: O problema não seria o euro?

Eichengreen: O euro é parte disso. Ele contribuiu para o desenvolvimentos de muitos dos problemas. A Grécia teve permissão para ingressar no euro e os investidores, por muito tempo, acharam que esse seria um bom país para investir. Eles ignoraram os problemas fiscais, viram a entrada no euro como uma espécie de selo de qualidade e emprestaram à vontade, sem se preocupar com os riscos. E agora, quando a crise surgiu, ser membro do euro fecha uma das alternativas que países tradicionalmente usaram para se ajustar e sair de crises: desvalorizar a moeda. Essa não é uma opção ao alcance. Foi um erro criar uma grande união monetária incluindo esses países relativamente mais fracos, como a Grécia. Também foi um problema criar uma união monetária com uma só moeda e um só banco central, sem criar fundos adequados de socorro e mecanismos apropriados de disciplina fiscal.

Valor: O euro é o culpado pelo baixo crescimento econômico da Europa na última década?

Bloomberg

"O ajuste será doloroso", prevê Eichengreen, numa Grécia em que se multiplicam os protestos de rua contra medidas que já vão sendo tomadas pelo governo
Eichengreen: Se você olhar a produção por hora de trabalho, a Europa tem se saído igual aos Estados Unidos. A Europa é diferente dos Estados Unidos porque lá as pessoas trabalham menos horas. A Europa também tem uma demografia diferente, a população e a força de trabalho têm crescido menos. Mas sua produtividade tem crescido no mesmo ritmo que nos Estados Unidos. Alguns países europeus, como a Alemanha, se saíram até melhor que os Estados Unidos na última década. Em outros, como Portugal e Itália, a produtividade se manteve estagnada. Isso ocorreu porque há rigidez nas economias domésticas, eles têm mercados de trabalho bastante regulados. Além disso, tem a China, que tomou o mercado de produtos que esses países europeus produziam e exportavam, como têxteis e roupas. Não colocaria a culpa no euro. Mas o fato de que esses países puderam tomar tanto dinheiro emprestado a preços tão baixos, em virtude de estarem na Zona do Euro, permitiu que adiassem a decisão de lidar com esses problemas.

Valor: Existe algo em comum com os problemas que surgiram com os regimes de câmbio fixo da América Latina nos anos 1990?

Eichengreen: Vejo algo em comum com a Argentina e o Brasil da década de 1990. Um sistema de câmbio fixo não garante disciplina fiscal. Com a taxa de câmbio fixo, às vezes os investidores não veem os riscos, não veem movimentos na moeda, não veem inflação. Pressupõem que tudo está bem, quando nem sempre está. De fato, há semelhanças entre a Argentina com o "currency board" de antes de 2001 e o efeito do euro em Portugal, Grécia e Irlanda. Mas também há diferenças. Se você tem um "currency board", você ainda tem sua própria moeda, então pode decidir mudar sua taxa de câmbio se as coisas não saem bem. A Grécia não tem essa opção. Teria que reintroduzir o dracma (a antiga moeda) para desvalorizar o câmbio e isso poderia ser muito difícil tecnicamente, financeiramente e politicamente, até mais difícil do que o abandono do "currency board" pela Argentina em 2001.

Valor: Por quê?

Eichengreen: Isso teria que ser debatido no parlamento grego, eles teriam que passar uma legislação para reintroduzir o dracma. Na primeira manhã em que as pessoas ouvirem que há um debate do gênero, vão tirar todo o dinheiro dos bancos gregos e enviar para Frankfurt. Iriam vender os títulos gregos e aplicar o dinheiro em títulos alemães. Essa seria a maior e mais violenta crise que o mundo já viu. Exigiria que a Grécia fechasse seu sistema bancário e financeiro. Além disso, teria toda a dificuldade técnica de reescrever os programas de computadores usados pelos bancos. Levou dois anos para eles prepararem os computadores para entrar no euro, entre 1999 e 2001. O tratado da União Europeia não prevê que um país saia da zona do euro. A única maneira de fazer isso é sair da União Europeia, o que colocaria em perigo toda a relação da Grécia com o resto da Europa. E, finalmente, o ponto mais importante é que uma eventual saída da Grécia do euro iria incutir na cabeça das pessoas a ideia de que outros países poderão fazer o mesmo. É algo que colocaria em perigo toda a estabilidade do euro. Acho que se parceiros da Grécia na Zona do Euro - a Alemanha, a França e outros -, virem que a Grécia considera deixar o euro, automaticamente vão lhe dar mais ajuda, para evitar colocar todo o projeto em perigo.

"O cenário mais provável é que os políticos europeus percebam que precisam avançar. [Acho que] vão chegar a um acordo"

Valor: Que tipo de solução se pode esperar para a dívida grega?

Eichengreen: Podemos esperar três tipos de coisas. Primeiro, a dívida publica será reestruturada porque o país não é capaz de pagá-la. Segundo, como grande parte da dívida pública está nas mãos de bancos locais, a Grécia precisará de ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para os recapitalizar. Terceiro, o Banco Central Europeu terá que evitar que a reestruturação na Grécia leve ao receio de reestruturação em outros países da Europa. O BCE terá que comprar títulos da Espanha, Itália e de outros países europeus no mercado secundário, para evitar que os "spreads" disparem.

Valor: Na América Latina, sempre que houve reestruturação de dívidas, teve-se também desvalorização da moeda, para recuperar o crescimento econômico. Isso será possível para a Grécia?

Eichengreen: Será difícil para a Grécia crescer em qualquer circunstância. Será mais difícil do que para a América Latina nos anos 1990, depois do Plano Brady, porque não há a opção da desvalorização. Existem dois tipos de desvalorização. Desvalorização [nominal] da moeda ou desvalorização interna. Na desvalorização interna, você tem que reduzir salários e benefícios e outros custos em 20% ou 30%. Isso é o que a Grécia será forçada a fazer, com ajuda de fora. Aí poderá crescer. A Grécia pode desenvolver uma produção agrícola de alto valor agregado. Por que a Itália e a França são conhecidos por produzir vinhos de alta qualidade e a Grécia não? A Grécia pode se tornar uma produtora de vinhos, azeites e outros produtos com sua própria marca. Também pode exportar energias limpas, porque está localizada numa região apropriada para usinas solares e eólicas. Também pode desenvolver sua indústria de turismo ou se tornar um portal de distribuição de produtos no Mediterrâneo.

Valor: Deflacionar salários não seria um processo muito longo e doloroso?

Eichengreen: É por isso que a Grécia precisa da ajuda de fora. O ajuste será doloroso. Mas não é correto afirmar que a Grécia chegou a essa situação por sua própria culpa e que, portanto, deve arcar com as consequências sozinha. Os países europeus contribuíram para que se chegasse a essa situação. Permitiram sua entrada na união monetária embora tivesse problemas estruturais, apesar de seu orçamento fiscal ser apenas uma peça de ficção. Fecharam os olhos quando os bancos alemães e franceses emprestaram muito para a Grécia. Os outros países europeus são também responsáveis e agora devem ajudar com dinheiro, fazer empréstimos com juros baixos, essas coisas. Com ajuda, a dor será tolerável, mas concordo que não se sabe o que acontecerá se não houver ajuda.

Valor:

AP

A Alemanha de Angela Merkel, hoje em situação privilegiada na economia europeia, terá papel primordial nos arranjos para ajuda à Grécia
Não é um problema para a sobrevivência do euro que alguns de seus membros entrem em "default"?
Eichengreen: A união monetária pode funcionar muito bem. Quando houve problemas fiscais em Estados brasileiros, na década de 1990, não houve rompimento na união monetária brasileira. Quando o Orange County entrou em "default" nos anos 1990, o Estado da Califórnia não deixou o dólar. As pessoas vão voltar a prestar mais atenção aos riscos dentro da união monetária, e isso é muito bom.

Valor: Outros países, do Leste Europeu, vão se juntar ao euro depois dessa crise?

Eichengreen: Vão primeiro ver o que acontece. No fim das contas, o que eles querem é que as falhas na União Europeia sejam corrigidas.

Valor: Pode-se esperar uma regra fiscal mais dura na Europa?

Eichengreen: É como o debate aqui nos Estados Unidos sobre aumentar o teto da dívida pública. A alternativa de não fazê-lo é muito assustadora para se levar em consideração. A Europa precisa completar sua união monetária, porque a alternativa de não fazê-lo é simplesmente assustadora, é mais caos econômico, financeiro e político. Eles terão que consertar a regulação e supervisão bancárias, vão ter que consertar o modo como monitoram as finanças públicas e os desequilíbrios privados.

Valor: Existe um risco, mesmo que pequeno, de o euro ser dissolvido?

Eichengreen: Não acho que podemos descartar isso. O cenário mais provável é que os políticos europeus percebam que precisam avançar. Os 50 anos de história da Europa dizem que, sempre que eles estão diante da escolha de ir adiante ou recuar, vão adiante e aprofundam a integração. É mais difícil agora, porque há uma nova geração de líderes, as circunstâncias mudaram. Mas continuo a achar que vão chegar a um acordo político.

Valor: Ainda se pode imaginar o euro como uma moeda de reserva internacional?

Eichengreen: Num cenário em que se consertam as falhas da união monetária, sim. Daqui a dez anos teremos três grandes economias no mundo, os Estados Unidos, a Europa e a China, e três moedas, o dólar, o euro e o yuan.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Itália é a bola da vez

A Itália é a bola da vez a ser arrastada para a crise da divida soberana que atinge a zona do Euro. Irlanda, Grécia, Portugal, evitaram a quebradeira socorrendo-se de empréstimos ao FMI e Banco Central Europeu, pagando o preço salgado do ajuste fiscal. Espanha vai se arrastando, mergulhada na crise econômica, cujos resultados é um elevado desemprego, que chega a 20% da população economicamente ativa.
Agora é a vez da Itália. Esse pais tem uma combinação explosiva: um governo desacreditado, sem poder de fogo para imprimir um ritmo de reformas fiscais, somado a uma divida publica que atinge 120% do seu PIB. É muito elevada, sem duvida.
Clóvis Rossi argumenta em artigo hoje na Folha de São Paulo que há muito tempo a Itália carrega esse fardo, de uma divida publica elevada, sem que isso tenha gerado crise. Que trata-se de os tubarões dos mercados financeiros investirem contra a economia desse pais para auferir ganhos. Ok, concordemos co o Clóvis Rossi ! Ele tem razão! Mas o fato é que isso não vai livrar a Itália de ser a próxima vitima. E o pior: é a terceira economia da Europa. Imagine o tsunami que está a caminho.